Conteúdo de palestra apresentada no Centro Espírita - Cumunhão Espírita Cristã de Curitiba
Por - Gilberto L. Tomasi
A nossa época é de perturbação e transição. E isso é explicável pelo fato de estarmos vivendo num mundo de prova e expiação.
A fé religiosa afrouxa e as grandes linhas da filosofia do futuro não aparecem senão a uma minoria de pesquisadores. Ou seja: A fé é pequena entre os homens e uma vida espelhada num futuro melhor é apenas uma visão de poucas pessoas que se entregam em pesquisar o que virá ainda em seu benefício.
Certamente, a época em que vivemos é grande pela soma dos progressos realizados. A civilização moderna potentemente aparelhada, transformou a face da terra, aproximou os povos, suprimiu as distâncias, colocou o homem junto de seu semelhante lado a lado. E nestas transformações advindas através dos progressos realizados, as instituições se aprimoraram, o direito substituiu o privilégio, a liberdade do espírito de rotina e do princípio de autoridade.
Uma grande batalha empenha-se entre as lembranças de um passado que ainda insiste em sobreviver, e o futuro que faz esforços por vir. E em favor desta luta, passado, presente e futuro, o mundo agita-se e marcha, um impulso irresistível arrasta-o, e o caminho percorrido, os resultados adquiridos fazem-nos anunciar conquistas mais admiráveis, mais maravilhosas ainda.
Mas se nesta caminhada incessante do mundo, os progressos conseguidos na ordem física e intelectual, são notáveis, é, pelo contrário nulo o adiantamento moral. E de nada adianta os progressos conquistados pelo homem, com a descoberta de novas tecnologias, com a ciência descobrindo a cura de diversas doenças, se o mais importante de tudo, que é o crescimento moral e por conseguinte o crescimento espiritual ficar estagnado, parado, as vezes até andando para traz.
As sociedades humanas, febrilmente absorvidas pelas questões políticas, industriais e financeiras sacrificam seus interesses em benefício do bem estar material. É a matéria se sobrepondo sobre o espírito. E assim sendo se os progressos da civilização são visíveis sobre todos os aspectos, nem por isso, como tudo o que é feito pelo homem, deixa de ter sombras por baixo.
Mesmo o homem conseguindo melhorar as condições da existência, ele conseguiu também multiplicar as necessidades da satisfação pessoal, aguçando os apetites, os desejos, o sensualismo e a depravação.
O amor pelo prazer, pelo luxo, pelas riquezas materiais, tornou-se mais e mais ardente. O Homem quer adquirir, possuir a todo custo, e essa necessidade do material, das falsas ilusões, resulta em especulações deprimentes que se ostentam á luz do dia.
Daí advém esse rebaixamento da moral e da consciência. E aparentemente, nada teria a doutrina Espírita a dizer, por exemplo sobre problemas como: distribuição de riquezas, luxos, vaidades, política, religião , etc..etc, uma vez que cumpre ao espiritismo cuidar essencialmente da vida extraterrena e portanto da parte espiritual do ser humano, e este realmente é o fundamento da doutrina dos espíritos.
Mas a doutrina espírita não é um livro apenas, nem uma tábua de prescrições de fé. Em seu conjunto, inteiramente homogêneo, o espiritismo é um corpo de princípios mais abrangentes, uma vez que engloba todas as posições do ser humano em relação não só ao mundo espiritual, mas também em relação ao mundo terreno.
A ciência e a tecnologia centuplicaram as riquezas da humanidade, mesmo que tais riquezas só tenham beneficiado a uma insignificante parcela de seus membros . Entenda-se por riqueza, não só os bens materiais, mas também as descobertas científicas e tecnológicas, ás quais a maioria não tem acesso.
O Homem conquistou riquezas, mas a solidariedade e a fraternidade, ocupam espaços apenas nos discursos. Ainda se morre de fome, ainda reina a corrupção, o vício, a injuria, a mentira. O homem enganado o seu semelhante,e com isso, excitando e debilitando o espírito e a alma.
Dia por dia, a desesperança e o suicídio fazem grandes devastações, as tragédias, os crimes hediondos aumentam em grandes proporções, e entre os envolvidos é considerável o número de adolescentes, que acabam se contagiando pelo meio em que vivem, pelos maus exemplos recebidos desde a infância, a falta de firmeza dos pais, a ausência da família, da fé e da oração. Nossos males ainda existem, apesar de todos os progressos conseguidos pela ciência e desenvolvidos pela instrução, porque o homem ignora a si próprio, o homem sabe pouco ou nada sabe das leis do universo, nada sabe das forças que estão dentro de si.
O conhece-te a ti mesmo, soa para a maioria dos homens como um apelo estéril, porque como desde o início dos tempos, a imensa maioria ainda ignora o que é, de onde veio, para onde vai, e qual o fim real de sua existência. E perdido dentro de sua própria existência o espírito humano flutua, indeciso, entre as solicitações de duas potências. Primeiro, as religiões, com seus erros e superstições, seu espírito de denominação e intolerância, mas também com as consolações advindas da fé que elas pregam. Segundo a ciência, materialista tanto em seus princípios como em seus fins, com exagerada inclinação para o individualismo, mas também com o prestígio de seus trabalhos e descobertas. E essa duas grandezas, a religião sem provas e a ciência sem ideal, se combatem sem que haja vencedor, porque cada uma delas corresponde a uma necessidade imperiosa do homem. A religião fala ao coração, e a ciência dirige-se ao espírito e a razão.
E em torno de numerosas esperanças e grandes aspirações derrubadas, os sentimentos generosos se enfraquecem, a divisão e o ódio substituem a benevolência e a concórdia. E no meio dessa confusão de idéias, a consciência perde sua bússola e sua rota e portanto ela caminha ao acaso, e na incerteza que pesa sobre ela, o bem e o justo se perdem, e as conseqüências desse conflito se fazem sentir por toda a parte, na família, no ensino e na sociedade.
Na gênese – cap. III, Kardec cita, que os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provém de seu orgulho, sua ambição, dos seus excessos em tudo. Aí a causa das guerras e das calamidades que elas arrastam, das dissenções, das injustiças, da opressão do fraco pelo mais forte, da maior parte afinal das enfermidades.
E a doutrina espírita nos ensina que ninguém progride afastado de tudo e de todos, e a nós Espíritas é um chamamento a participarmos com responsabilidade e com uma conduta ética e moral a toda prova, no crescimento da sociedade, quer seja material ou espiritualmente, dentro de uma educação moral mais profunda, que oriente o homem para conviver com as mudanças com os fenômenos que o desafiam, sem se desgarrar do caminho seguro, sem abandonar os valores éticos de sua formação. E para o homem caminhar coesoe sair deste estado de crise, só há uma solucão: Achar um caminho de conciliação entre duas forças inimigas, ou seja, o sentimento e a razão, para que as duas possam se unir para o bem e a salvação de todos.
Isto porque todo o ser humano tem em si essas duas forças, e pelo sentimento ele pensa, e pela razão ele procede, e havendo acordo entre pensar e proceder, acaba trazendo ao espírito o equilíbrio e harmonia. E enquanto havendo contradições entre essas duas forças, o sentimento e a razão, acarretará a desordem. E como tudo o que se produz em cada um de nós se manifesta na sociedade inteira, tudo portanto o que a sociedade vivência é uma amostra de nosso modo de agir e pensar.
A idéia que o homem faz do universo, das suas leis, o papel que lhe cabe em sua existência, refletirá sobre toda a sua vida e influenciará em suas determinações. É segundo essa idéia que devemos traças para nós mesmos um plano de conduta e por ele caminharmos.
Toda vez que uma nova concepção do mundo e da vida penetra no espírito humano e, aos poucos, se infiltra em todos os meios, a ordem social, as instituições e os costumes se ressentem logo, e quando essas novas concepções veem acompanhadas de um problema social, que é um problema de ética, acaba se transformando em problema moral, porque onde quer que ocorra alguma divergência entre os homens, haja diversidade de condições ou se apresentem desigualdades irredutíveis, vamos encontrar com certeza as influências da crise moral em que vive a humanidade. Onde quer que nos coloquemos para observar os fatos, ou qualquer manifestação humana, a causa moral desses efeitos é o que imediatamente nos chamará a atenção. E nenhuma transformação de ordem econômica ou social poderá modificar o estado presente de insegurança e de instabilidade se não vier acompanhada de uma transformação de ordem moral. E é exatamente esta postura o que nos propõe a doutrina espirita. Conclui-se então que todas as desigualdades sociais, as enfermidades, as desavenças ruidosas, os conflitos de interesses, tudo o que gera desgostos e infelicidades ao gênero humano, tem na ética e na moral do homem a sua causa e também o seu remédio, dependendo apenas de como o homem usa o seu livre arbítrio em função de sua ética e de sua moral.
Jesus Cristo anunciava que os homens se amassem uns aos outros e se assim o fizessem, nenhuma pendência mais haveria entre eles, porque toda a questão, todo problema resulta da falta de entendimento, de concordância entre os homens. E como o homem ainda é um ser inferior, ele não sabe ser amável, ele não sabe sorrir, não sabe afagar, não sabe compreender, não sabe ouvir, não sabe dividir.
Somente a partir do momento que os homens passarem a se entender, deixarão de lado o egoísmo, o orgulho, presunção, a preocupação de domínio e os instintos de crueldade ainda arraigados em seus espírito, porque quando esses baixos sentimentos – egoísmo, orgulho, presunção, vaidade - imperam, é impossível um acordo de satisfação entre as partes, de modo que sempre apareça um dominando e outro sendo dominado.
No terceiro livro do Evangelho Segundo o Espiritismo, a respeito das Leis morais, na pergunta 614 “O que se entende por Lei Natural” - os Espíritos respondem: A lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que fazer e o que não fazer, e ele é infeliz quando se afasta dela” . Na pergunta 617 – “Que objetivos abrangem as Leis divinas? ” os espíritos respondem: “Todas as leis da natureza são Leis Divinas, porque Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as Leis da matéria,
o homem de bem estuda as Leis da alma.” Ainda de acordo com a pergunta 620, os espíritos nos dizem que a alma antes de sua união com o novo corpo, compreende melhor as leis de Deus, segundo o seu grau de perfeição, mas os instintos de maldade do homem são tamanhos que a fazem esquecer logo após a reencarnação. De onde se conclui que o homem continua ainda muito afastado de Deus, desconhecendo, ou desprezando as suas Leis.
E entre tantos obstáculos existentes para que o homem consiga atingir uma elevação em seus princípios éticos e morais, encontra-se o positivismo materialista e ateu, que não enxerga na vida nada mais que uma passageira combinação da matéria e da força, e nas leis do universo somente vê um mecanismo brutal, não enxergando noção alguma de justiça, de solidariedade, de responsabilidade, surgindo daí um afrouxamento geral dos laços sociais, um cepticismo pessimista, um desprezo a qualquer lei e qualquer autoridade de pudesse erguer os homens dos abismos em que se encontram.
As doutrinas materialistas levaram uns ao desânimo, outros ao aumento da cobiça, por toda a parte induziram ao culto do ouro e da carne. Sob a influência do materialismo uma geração nasceu desprovida de ideal, sem fé no futuro, sem energia para a luta, sem perseverança nos atos, duvidando de si mesma e de todos. As religiões dogmáticas, conduziram a humanidade a arbitrariedade, ao nepotismo, atirou o homem inevitavelmente, á anarquia e á descrença total. As concepções católicas criaram a civilização da idade média e modelaram a sociedade feudal, monárquica e autoritária. Então na terra como céu dominava o reinado da graça e do favor.
Acontece que tais concepções já viveram e hoje não encontram mais lugar no mundo moderno, só que abandonando essas velhas crenças o mundo presente não soube substituí-las. E uma sociedade sem uma base firme no presente e sem esperança, sem fé no futuro, é como um homem perdido no deserto, como uma folha que vagueia á feição do vento. E para seguirmos na vida, rumo a processo de evolução espiritual, com passos firmes e para nos preservarmos dos desfalecimentos e das quedas, é preciso uma convicção robusta, uma fé que nos eleve acima do mundo material, é necessário ver-se o alvo e para ele caminharmos.
Mas se nos domina ainda a idéia do nada, se acreditarmos que a vida não tem seqüência e que tudo termina com a morte, então para sermos lógicos, cumpre a nós colocar acima de qualquer outro sentimento, apenas os cuidados com a existência material, com o interesse pessoal, pois de nada importaria pensarmos num futuro que não queremos conhecer. Entretanto nem todo o ideal está morto, está perdido. A alma humana tem, ainda, algumas vezes, o sentimento de sua miséria, da insuficiência da existência presente e da necessidade da sobrevivência. No pensamento do homem uma espécie de intuição subsiste.
O homem vaga e confusamente, crê e aspira á justiça. Para isto, basta compreender a todos que esta noção de justiça e de crença, gravada em nós, é a lei do universo, que rege todos os seres e todos os mundos e que por ela o bem deve finalmente triunfar sobre o mal e a vida sair da morte. E de onde virão a luz, a salvação, o reerguimento?. Da igreja não, porque ela é impotente para regenerar o espírito humano. Da ciência também não, pois esta não se preocupa com os caracteres nem com as consciências, mas tão somente com o que fere os sentidos, e tudo o que faz grandes os corações, fortes as sociedades, a dedicação, a virtude, a paixão do bem, não podem apreciar-se pelos sentidos.
A luz virá da filosofia dos espíritos, onde encontramos a doutrina oculta que abrange todas as idades. A doutrina espírita poderá transformar povos e sociedades, levando claridade a toda parte onde for noite, fazendo, fundir ao seu calor o gelo e o egoísmo que houver nas almas. Estabelecerá conciliação com a paz e a harmonia, nos ensinando a agir com um mesmo espírito e um mesmo coração, nos ensinando que somos avaliados, não tanto pelo que conseguimos levar a bom termo, mas também pelo esforço que desenvolvemos em acertar.
FONTES DE CONSULTA:
A Gênese ( Allan Kardec)
Livro dos Espíritos ( Allan Kardec)
O Espiritismo e os Problemas Humanos (Deolindo Amorim)
Depois da Morte ( Léon Dennis)
Grandes e Pequenos Problemas ( Angel Aguarod)