domingo, 19 de abril de 2020

Fatalidade, Destino ou Livre Arbítrio?

Por: Joilson Mendes

 

 
O assunto em tela é motivo de várias discussões nas casas espíritas em seus grupos de estudos. Sempre fica a dúvida se determinado acontecimento, principalmente os que envolvem tragédias familiares, foi uma fatalidade, se estava no destino daquela pessoa passar por tal situação ou foi livre arbítrio. Nestes casos, qual explicação dada a Kardec pelos espíritos?
Para esclarecermos este assunto, utilizaremos por base o caso da mãe grávida, que foi baleada na cabeça, em uma tentativa de assalto, no Rio de Janeiro, no dia 13 de janeiro de 2018. Mas nem ela e nem o bebê ficaram com qualquer sequela. A referência está citada abaixo e os grifos no texto foram deixados para destacar a relevância das respostas apresentadas pelos espíritos.
Nesta análise utilizamos especificamente O Livro dos Espíritos, onde consta os atributos de Deus e um deles é ser soberanamente justo e bom, logo, podemos deduzir que tudo o que nos acontece está enquadrado na justiça divina, caso contrário, ao admitirmos uma injustiça, Deus não existiria e não teríamos razões para continuar com este artigo.
Logo nas primeiras questões de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se é dado ao homem conhecer o princípio das coisas (Q17/18). Os espíritos dizem que o homem não pode conhecer tudo e à proporção de sua evolução poderá compreende-las, mas que ainda lhe faltam certas faculdades.
Por mais que nos esforcemos para entender certos acontecimentos na vida, não temos a capacidade para uma compreensão plena. No caso em análise, não temos como afirmar, categoricamente, de que é isso ou aquilo, mas, com base nos ensinamentos deixados pelos espíritos podemos levantar algumas suposições.
Nas (Q258/259), foi perguntado se antes de começar uma nova existência o Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida. E a resposta é que ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar, porém, os detalhes são consequência da situação em que vive e de suas ações.
Entende-se que o espírito escolhe passar por uma experiência terrena de privações materiais, ou viver na abundância, ser uma pessoa de destaque na sociedade, passar por momentos dificultosos, ter uma morte violenta, etc. Perceba que o espírito fez a escolha do gênero, mas os detalhes de como poderá acontecer faz parte dos mistérios que ao homem não foi dado conhecer.
Nas perguntas de 851 a 866, Kardec questionou insistentemente sobre o tema e os espíritos foram taxativos em apresentar sempre a mesma resposta. Mesmo o codificador tendo feito as perguntas de maneira diferente, para ver se os espíritos entrariam em contradição, uma frase sempre era repetida por eles, a de que a fatalidade somente se configura pelas escolhas que nós mesmos fizemos antes de reencarnar. Logo, temos o livre arbítrio pela escolha feita e a “fatalidade”, também pela escolha que fizemos.
E aquelas pessoas que tudo de ruim acontece na vida delas? A pessoa vive doente, nunca tem dinheiro suficiente para comprar medicamentos, comida, tem dificuldade de arrumar um trabalho e quando arruma não fica muito tempo empregada, não seria esse o destino dessa pessoa?
Foi a escolha da prova que ela fez antes da reencarnação, dizem os espíritos. Mas poderá você se questionar sobre ter escolhido uma vida tão dura, será que eu teria feito mesmo esta escolha? Esclarecem-nos os espíritos que, quando estamos fora do corpo físico nossa visão a respeito da universalidade da vida é ampliada e sabemos que tal escolha foi feita com base na percepção do progresso espiritual, não na estreita visão material da vida encarnada que é apenas passageira.
A (Q853 a) é categoria: “Assim, qualquer que seja o período que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?”
“Não, não morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.
Considerando o caso em questão, poderíamos perguntar o por que de passar por uma experiência desta natureza. Esta foi a (Q 855) que Kardec também fez aos espíritos, e obteve como resposta o seguinte: “...é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, afim de te desviar do mal e te tornar melhor”.
Na (Q859 a) foi perguntado: “Há fatos que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?” Resposta: “Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste ao fazer a tua escolha. (...)”
A (Q860) Kardec ainda tenta levantar a possibilidade de realmente existir um destino inalterável ao perguntar se, pela nossa vontade e atos podemos evitar certos acontecimentos. Os espíritos chamam de “desvio aparente que possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu”. Percebam quem nem mesmo pela nossa vontade, enquanto encarnados, poderemos evitar certos acontecimentos que escolhemos passar quando em estado de espírito livre da matéria, demonstrando novamente que, prevalecerá a escolha que fizemos antes de reencarnarmos, uma vez que a nossa percepção da vida era de maior amplitude.
Ainda na (Q866), traz o esclarecimento derradeiro sobre a fatalidade e o livre arbítrio. “Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre-arbítrio?” Resposta: Tu mesmo escolheste a tua prova; (...)”.
Diante do acima exposto, observa-se que tanto a “fatalidade” quanto o “destino” são o nosso livre arbítrio mal compreendido. São acontecimentos que fogem ao pleno conhecimento de todos nós, seres encarnados e que ainda tem muito a aprender, devido a nossa imperfeição intelectual e moral.
Contudo, você poderá levantar as seguintes perguntas: Se uma pessoa escolheu passar por uma situação difícil como o caso apresentado, outro espírito escolheu ser o atirador? E no caso de pessoas que morrem em um acidente de trânsito, em que um motorista alcoolizado, mata toda uma família, foi ele quem escolheu aquela situação? Em um atentado terrorista, em que o atirador dispara uma arma matando dezenas de pessoas, ele escolheu matar? Pois se alguém escolheu morrer, outro deve ter escolhido matar, isso me parece lógico, não é? Os espíritos nos esclarecem que ninguém nasce com o objetivo de fazer o mal.
Vamos recorrer às questões de O Livro dos Espíritos:
“459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
R: Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.
525. Exercem os Espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida?
R: Certamente, pois que vos aconselham.”
Considerando que vivemos em um mundo de provas e expiações; que o mal ainda prevalece sobre o bem; que a probabilidade de alguém de má tendência realizar uma má ação é maior que a de realizar uma boa ação; que o número de espíritos desencarnados é muito superior aos encarnados; e as questões supracitadas, vamos encontrar nas questões de 526 a 532, de O Livro dos Espíritos, respostas apresentadas no sentido de que os espíritos vão agir sempre no sentido de cumprir as leis da natureza e nunca contrário a estas leis. Recomendamos a leitura destas perguntas para melhor entendimento. Não vamos comentá-las com maior profundidade para que este artigo não se alongue mais que o necessário.
Os espíritos vão inspirar sugestões para alguém realizar tal ação, mas ainda assim o seu livre arbítrio prevalecerá, a pessoa poderá ou não disparar a arma, dirigir alcoolizado, cometer um ato ruim; ou abaixar-se, seguir outro caminho, não embarcar em um avião, etc. Vamos lembrar os diversos casos de obsessão, onde o obsedado realiza tarefas que depois nem se lembra. O caso de Jesus que ao questionar um mal espírito sobre quem era, teve como resposta “legião” e muitos outros casos narrados nas obras de Chico Xavier, todos comprovando a influência dos espíritos sobre cada um de nós.
No caso apresentado podemos dizer com base na (Q 855) supramencionada, que foi uma escolha da família passar por uma situação de advertência, qual o fim? Não temos como responder. Quanto ao assaltante, foi um instrumento utilizado, e por que não dizer, manipulado por mentes perversas, considerando a sua natureza espiritual para realizar tal feito. Por que nada de mal aconteceu a mulher e a criança? Voltemos a (Q 853 a), não era a hora.

Referêncial Bibliográfico
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos