sexta-feira, 25 de março de 2011

POR QUE ESQUECER?



Considerações sobre o esquecimento do passado

 Joilson José Gonçalves Mendes

Todos nós já estivemos encarnados no mundo da mesma forma que hoje, apenas com um corpo material diferente, filho de pais diferentes, em época e local diferentes. Tivemos as mesmas necessidades materiais, outras vezes vivemos na opulência, diversos anseios, desejos etc. Convivemos com diversas pessoas, tomamos muitas decisões, cometemos erros e acertos. Tudo isso aconteceu diversas vezes, e somamos experiências e lições que foram incorporadas e estão arquivadas em nosso registro espiritual. Sabendo que tivemos tantas experiências, por que não lembramos de quem fomos, o que fizemos e o que aprendemos?
Kardec, na questão 392 de O Livro dos Espíritos, perguntou qual o motivo de perdermos a lembrança do passado e obteve a seguinte resposta: "O homem nem pode, nem deve saber tudo. Deus assim o quer, na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado, como aquele que passa do escuro para a luz. Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo”.
Esquecer para não sofrer. Imaginem se lembrássemos de tudo o que fizemos, dos erros que cometemos, será que teríamos estrutura para suportar tal lembrança? Muitas coisas “erradas” que fizemos nesta curta existência nem queremos lembrar, fazemos questão de esquecer, quanto mais recordar atos cometidos em nossa fase mais primitiva da existência.
Esquecer para aprender. A cada encarnação devemos aprender mais e mais seja no campo material ou espiritual, quanto mais aprendemos mais teremos condições de ajudarmos aqueles que estão em condições inferiores e assim colaborarmos com o criador para a evolução do mundo, contribuindo com o que temos.
Esquecer para não sentirmos humilhados. Como você se sentiria se reconhecesse em um colega de trabalho aquele que em uma vida passada exerceu uma condição de superioridade sobre você e o fez passar por experiências desagradáveis?
Esquecer para não se envaidecer. Qual seria a nossa atitude se soubéssemos que fomos pessoas de importância para a sociedade da época? Agiríamos com humildade ou seríamos mais vaidosos?
Esquecer para não se orgulhar. Os espíritos nos ensinam que o orgulho é uma das piores chagas da humanidade e que deve ser extirpado de nós. Muitas vezes vemos mendigos andando pelas ruas como se fossem verdadeiros reis cheios de imponência. Como nos sentiríamos se soubéssemos que fomos pessoas de posses, de conhecimento privilegiado no passado?
Esquecer para não se revoltar. Sabemos que na maioria das vezes, nossos pais, filhos, irmãos e parentes mais próximos são pessoas com quem nos comprometemos em vidas anteriores. Qual seria nossa reação se reconhecêssemos em nossos familiares o inimigo do passado?
Em fim, esquecer para aprender a usar o livre arbítrio.
Em o Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos a seguinte citação: "Se Deus considerou conveniente lançar um véu sobre o passado, é que isto deve ser útil”.
Mas será que não nos lembraremos mais do nosso passado?
Sabemos que a vida principal é a do espírito, que cada encarnação é mais um processo de aprendizado e que sempre voltaremos para a pátria espiritual. A cada retorno para o plano espiritual, lembramos das existências anteriores, mas a lembrança completa de todas as existências só ocorrerá quando atingirmos um grau de evolução que nos permitirá a recordação de maneira equilibrada.
Então toda a nossa experiência, tudo o que passamos é perdido a cada nova encarnação?
Ao voltarmos à questão 392 acima, percebemos que os espíritos nos dizem que não devemos saber de tudo e que um véu encobre certas coisas. Isto implica que sempre traremos lembranças de alguma experiência do passado. Quantos casos já vimos sobre crianças que possuem um conhecimento impróprio para a sua idade? Ou que, sem que tivessem qualquer tipo de aprendizado são capazes de apresentar cálculos matemáticos aprendidos somente na universidade? Ainda, crianças que desenvolvem uma habilidade artística como a de um pianista experiente, sem nunca ter tocado um piano?
Estas experiências têm explicação no aprendizado ocorrido em uma vida anterior e que o espírito trouxe para a vida atual para lhe ser útil de alguma maneira. O nosso passado está esquecido, mas não perdido. Está gravado em nosso subconsciente e muitas vezes a intuição que temos sobre certas coisas é nada mais, nada menos que a lembrança adormecida do aprendizado anterior.
Compreendamos que ainda somos crianças no processo evolutivo da vida e que muito temos a aprender. O que importa é aproveitarmos o momento presente. Se queres conhecer o teu passado faças como nos ensina o Espírito da Verdade: “olha o teu presente, tudo o que passas hoje é resultado do que fizestes ontem”. E podemos acrescentar que o que fizeres hoje colherá no futuro.
O passado nos revela o que somos hoje e que devemos trabalhar incessantemente sobre nossas imperfeições, aprendendo a amar a aceitar-nos como somos, para que, em breve, tenhamos condições de estender este amor ao próximo. Para isto devemos empregar o recurso do auto-conhecimento, somente conhecendo-nos profundamente poderemos compreender, com equilíbrio, o nosso passado e então tornarmos pessoas livres para o futuro que nos aguarda.

Bibliografia:

  • Livro dos Espíritos
  • Evangelho Segundo o Espiritismo
  • Vida desafios e soluções - Joana de Angelis - Psicografado por Divaldo Franco
  • Dias gloriosos - Joana de Angelis - Psicografado por Divaldo Franco

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