Por - Gilberto L. Tomasi
Para facilitar a caminhada do homem rumo sua evolução, vivenciando a lei de ação e reação, e para facilitar o seu entendimento, surge a teoria do risco, que tem por finalidade esclarecer a interligação existente entre o livre arbítrio do ser humano com o determinismo de deus.
Vive o encarnado, dia após dia, situações de risco e, a cada triunfo conseguido, ultrapassando obstáculos e utilizando corretamente a sua liberdade de decisão, se aproxima do sucesso almejado em sua jornada terrena. É bom esclarecer, inicialmente, que essa teoria.
Apesar de existir sob outra forma no plano espiritual, da maneira como vai ser aqui exposta deve ser aplicada somente aos encarnados. E, dentro dessa teoria do risco, vamos falar sobre o livre-arbítrio e o determinismo.
Livre-arbítrio
O livre-arbítrio é a faculdade que o ser humano tem de eleger o seu próprio caminho, é o seu comando de vida, resistindo ou cedendo ás suas boas ou más tendências e ás influências que recebe dos espíritos elevados ou inferiores. A liberdade de ação de cada encarnado, entretanto, pode ser limitada pelo determinismo do plano superior. (o livre-arbítrio é ilimitado na intenção do homem. As ações,no entanto, que visam colocar em prática essa intenção, podem ser limitadas pela vontade de deus.)
Cada prova que o homem tem pela frente, durante o estágio na crosta terrestre, incide o bom ou o mau uso do seu livre-arbítrio, conforme esteja sendo utilizado mais ou menos próximo aos ensinamentos de Jesus. O livre arbítrio do homem jamais é tolhido ou influenciado pelo de outrem – encarnado ou desencarnado – sem que o homem queira ou consinta. Se as suas decisões são desviadas do primeiro intento, na verdade tal situação é permitida consciente ou inconscientemente pela própria pessoa que está decidindo.
Situações de interferências no campo das decisões tomadas no plano material podem nascer de obsessões ou influenciações, às quais todos os seres humanos estão sujeitos, porém o mau uso do livre-arbítrio, originário dessas influências de entidades inferiores, não afasta a responsabilidade do encarnado, que permite essa aproximação e, por vezes, a dominação de seus passos por tais espíritos. Enfim, o homem é sempre responsável por seus atos quando se desvia da trilha do bem.
Sendo a crosta terrestre um ambiente evolucional neutro, confere a todo indivíduo a possibilidade de vencer qualquer prova que tenha pela frente, bastando somente a aplicação da fé, o exercício da força de vontade e a promoção da reforma íntima. Deve, pois, o homem resistir à suas más tendências, afastando idéias desviadas do evangelho e se desvincular de qualquer assédio nesse sentido por parte de encarnados ou desencarnados.
Nesse contexto, ao receber inspirações ou intuições de espíritos superiores, cabe ao seu livre-arbítrio aceita-las e assimilar cada uma ou não. Se as aceitar estará exercitando positivamente o seu poder de decisão plena. As vezes ocorrem intuições ordenativas, ou seja, sugestões transmitidas energicamente pelo plano superior. Mas mesmo assim, não suprimem a livre aceitação por parte de quem recebe a mensagem.
Não se deve falar em abuso de livre-arbítrio, mas tão-somente em bom ou mau uso do mesmo. O ser humano tem opções livres a escolher durante a sua jornada terrena. Pode utilizar seu poder de decisão como melhor lhe convier, arcando sempre com as consequencias de seus atos, positivos ou negativos. Desvios nessa rota de decisão fazem parte do processo evolutivo, já que o encarnado não deixa de aprender também com os seus erros.
Determinismo
O determinismo é a vontade de Deus, atuando nos fatos através de suas leis ou por intermédio de seus emissários, com vistas a garantir o progresso geral. Portanto, sempre que o alto deseja que alguma situação ocorra no plano material ou que alguém seja colocado frente a um acontecimento qualquer utiliza-se do determinismo, ou seja, materializa-se a vontade superior. Jamais o determinismo diminui do encarnado o seu livre-arbítrio, mas pode influir em ocorrências, determinando situações que, aparentemente, parecem retirar do homem a sua livre decisão. Exemplo disso é a concretização do desencarne de um médium que viesse utilizando para o mal ou desviando a finalidade de sua mediunidade, colocando em risco terceiros e a própria credibilidade da doutrina espírita. Nesse caso, por determinismo, o médium, colocado em uma situação de risco termina desencarnando. Por outro lado, o espírito pode – dependendo do seu grau de evolução – escolher livremente a trajetória que irá trilhar na crosta, ainda antes de seu reencarne.
Uma vez que opte, por exemplo, para retornar à carne num corpo material defeituoso, é preciso a atuação do determinismo para garantir esse tipo de reencarnação, enviando-o, efetivamente, a um corpo privado de uma determinada condição física. Percebe-se que, sem o determinismo, não haveria controle por parte da superioridade ante o desvio e a má utilização do livre-arbítrio por parte do homem, nem seria possível controlar fenômenos naturais.
Ainda sob esse prisma o determinismo atua para enviar uma entidade recalcitante de volta à carne, sem que, nesse caso, predomine o livre-arbítrio.( a vontade do espírito). Reencarnes compulsórios podem ser determinados pelo alto em favor do próprio espírito revoltado e reticente. Isso não significa cortar seu livre arbítrio, mais sim utilizar, em lugar deste, o determinismo para atingir objetivos elevados e justos.o determinismo, como pode se observar, por ser a atuação da vontade de deus, é sempre pleno de justiça e repleto de misericórdia.
O livre-arbítrio, por estar na alçada das criaturas, nem sempre é usado para boas finalidades. Em resumo, pode-se dizer que o livre-arbítrio é a ferramenta de trabalho do homem, enquanto que o determinismo serve como instrumento de ação do plano superior. Ambos compõem a teoria do risco.
A teoria do risco
Essa teoria representa o estudo e a verificação prática da convergência existente entre livre-arbítrio e determinismo, visando, com isso apresentar regras básicas de entendimento das leis divinas e sua aplicação, facilitando a compreensão do mecanismo de evolução dos seres humanos.
Iniciemos a análise do tema com o seguinte quadro explicativo:
- Um espírito se prepara para reencarnar. Escolhe, por livre-arbítrio, a trajetória num determinado corpo físico, vinculado a família específica. A fim de garantir que reencarne nessa família e com o corpo a ele destinado, ingressa o determinismo do alto que, através de seus emissários, prepara o seu retorno á carne.
Uma vez reencarnado, e por estar ainda em fase infantil, desenvolvendo o seu discernimento e sua razão, ele se envolve em várias situações de risco, onde então vai imperar o determinismo para orientar os seus passos e garantir o seu amadurecimento no corpo material. Durante o seu crescimento aumentam as decisões livres que ele passa a tomar, elevando, ainda mais a sua responsabilidade em cada um de seus atos. Se durante a sua trajetória há a necessidade de reencontrar determinado inimigo do passado, que está reencarnado em algum lugar do globo, novamente o determinismo cuida de promover esse reencontro. Se o espírito tiver que se submeter a alguma prova para estimular o seu progresso espiritual é, por determinismo, colocado nessa situação de risco.
O espírito torna-se médico. À sua frente e em sua comunidade surge uma epidemia, que lhe obriga a responsabilidade de prestar socorro ao próximo. Por livre-arbítrio, ele pode ou não ajudar o seu semelhante. Caso decida ajudar, a convergência entre o determinismo do alto (que o coloca frente a uma epidemia) e o seu livre-arbítrio (decisão de ajudar o próximo) acarreta o seu progresso espiritual. Caso deixe de prestar a ajuda pode contrair débitos, que serão resgatados futuramente e podendo até mesmo ficar estagnado nessa trajetória evolutiva.
Esse mecanismo continua existindo durante todo o seu estágio reencarnatório. Ao final, a última palavra cabe ao determinismo, quando chega o momento do seu desencarne, com o devido retorno á pátria espiritual para a sua devida avaliação. Assim sendo, o início e o fim da jornada na crosta terrestre se fazem por determinismo, quando chega o momento do seu desencarne, com o retorno á pátria espiritual para a sua devida avaliação.
Portanto, o início e o fim da jornada terrestre se dá por determinismo.
Algumas situações de risco são vivenciadas por determinismo, mas todas as ações e atitudes que implicam em decisões pessoais, que acabam gerando boas ou más consequencias para o homem, são tomadas por livre-arbítrio. Logo, deve-se ter em mente que nem tudo o que ocorre no mundo material se dá por força do determinismo, ou seja, pela vontade de Deus.
Há sempre a incidência do livre-arbítrio dos homens acarretando certas situações e trazendo determinadas consequencias. O homem tem, desde o seu reencarne, inúmeras provas ou expiações a enfrentar, necessitando do correto equilibrado uso do livre-arbítrio, ou seja, da faculdade de decidir os seus passos e o seu caminho, para poder triunfar em sua programação, alcançando a almejada depuração espiritual. Dessa forma, deve se ressaltar que o homem fazendo mau uso do livre-arbítrio pode ocasionar consequências desastrosas não só para ele, mas também para aqueles que estão a sua volta. Quando é o caso, a espiritualidade intervém em favor daqueles que seriam prejudicados pela má utilização do seu livre-arbítrio, impedindo que os efeitos negativos ultrapassem a sua própria pessoa. Neste caso, está o determinismo interferindo em uma situação de risco para que haja equilíbrio nas relações humanas, conforme a programação superior.
E, muito embora a teoria do risco tenha sempre por base a integração do determinismo com o livre-arbítrio, pode acontecer, quando isso é conveniente, que a espiritualidade maior não intervenha e portanto os efeitos negativos do mau uso do livre-arbítrio de um encarnado possam atingir também a terceiros. Neste caso a programação evolutiva de todos assim o permite.
Enquanto o homem fizer mau uso de seu livre-arbítrio, isso só ira lhe causar mais prejuízos, aumentando os seus débitos, ao passo que o seu bom uso, além de lhe proporcionar progressos, pode também , através do determinismo a lhe minimizar as suas provas e expiações. Um exemplo disso é o caso de alguém que tendo por programação – por causa de erros do passado - alguma perda ou algum mal corporal, por acidente ou não. E durante a sua jornada física ele vivencia o apego a caridade, prática e distribuição do amor – por livre-arbítrio -, pode ele por determinismo ter o mérito suficiente para obter o abrandamento de suas expiações em face de dívidas pretéritas, que são aliviadas pela ação caritativa do presente.
Infelizmente muitas pessoas ainda conservam a falsa idéia de que tudo acontece por determinismo, ou seja, que esse é o mecanismo que impulsiona todas as trajetórias no plano físico do mundo. Assim sendo, a idéia que se tem, é que tudo de mal ou de bom que acontece no globo são a vontade de Deus, como se deus fosse responsável pelos erros e desvios dos homens. A lógica divina não é essa.
O livre-arbítrio tem relevância nesse contexto. Muitos prejuízos vividos pelo homem, são consequencias de seus próprios atos. Logo não é justo dizer: tudo está traçado pelo destino, ou então dizer, que todos os males terrenos são determinados pelo alto. Assim como também seria falso afirmar, que todos os males da humanidade são provenientes do livre-arbítrio do homem.
O absolutismo dessas posturas não corresponde À realidade do processo evolutivo, pois como já dissemos anteriormente, de acordo com a interação explicada pela teoria do risco, ora prevalece o livre-arbítrio, e ora prevalece e determinismo. Isto porque em qualquer lugar ou momento da jornada terrena pode surgir uma situação de risco, quando então, o encarnado tomará uma decisão, usando bem ou mal o seu livre-arbítrio.
Essa situação de risco pode ser criada por determinismo ou por livre-arbítrio.
Outro tema relevante que tem relação com a teoria do risco é a lei de ação e reação. Para toda a ação praticada pelo homem, intencionalmente, vai corresponder uma reação em igual sentido. Assim, atos bons trazem efeitos positivos. Atos maus acarretam retornos negativos. Para garantir a ocorrência da reação, existe um mecanismo que não pode ser afastado, que é o determinismo. Para o desencadeamento de ações conscientes, se torna fundamental o exercício do livre-arbítrio.
Portanto, para cada ação intencional (que é a utilização do livre-arbítrio), existe, por determinismo, uma reação. E essa, é a relação da teoria do risco com a lei de ação e reação. Num contexto maior, se pode vislumbrar a importância desta teoria em termos de reencarnação: cada existência física que o homem vivência é composta de inúmeras situações de risco e a própria existência representa uma jornada de risco.
O homem responde pelo conjunto dos atos praticados ao longo de sua vida material e o resultado dessa avaliação vai constatar a sua evolução, a contração de novos débitos ou mesmo a estagnação.
Existem reencarnações de conteúdo predominantemente expiatório, ou seja, um retorno á matéria para expiar grandes erros do passado, e essa reencarnação é uma reação a uma trajetória anteriormente vivenciada.
Ilustrando, vejamos o seguinte quadro comparando a reencarnação atual com uma situação de risco, sob o prisma da lei de ação e reação.
Dentro da lei de ação e reação:
Ação ( livre-arbítrio)
Reação ( determinismo)
Dentro da teoria de risco:
1) Situação de risco: envolve uma decisão (livre-arbítrio), positiva ou negativa, que acarreta uma reação em igual sentido (determinismo).
2) Reencarnação: envolve um conjunto de decisões e ações do encarnado (livre-arbítrio) que lhe trás, como reação, outra reencarnação, cuja programação leva em conta a trajetória física anterior (determinismo)
Pela lógica da teoria do risco, o bom uso do livre-arbítrio tem a força de modificar, quando possível, o determinismo do alto. Agora, uma das regras da teoria do risco é que o mal nunca, jamais, é fruto do determinismo e sim sempre é fruto do livre-arbítrio que é utilizado erroneamente.
O plano superior nunca conduz nenhum encarnado a cometer atos incompatíveis com os ensinamentos de Jesus. O que pode fazer é conduzir, por determinismo, duas pessoas a terem um encontro, para resgates mútuos. E o resultado negativo desse encontro (determinismo) é sempre fruto das decisões dos próprios homens envolvidos (livre-arbítrio), ou seja, um mal (vivenciado individual ou coletivamente), somente pode ser fruto do livre-arbítrio. Um bem (vivenciado individual ou coletivamente), pode ser tanto fruto do livre-arbítrio como do determinismo.
Existem duas situações de especial relevância na jornada evolutiva dos seres humanos (que não veremos agora) que merecem ser vistas á luz da teoria do risco: o suicídio e o duelo.
Conclusão
É importante frisar, que Deus sabe com antecendência tudo o que acontece, seja em termos de determinismo ou de livre-arbítrio. Assim cada passo que é dado pelo homem é conhecido pela sabedoria divina, antes mesmo de ser decidido. Entretanto, mesmo Deus sabendo de antemão todos os passos que serão dados pelo homem e tendo plena consciência dos caminhos que serão seguidos por seus filhos, ele não retira de qualquer ser humano a possibilidade da plena utilização de seu livre-arbítrio.
A princípio isso parece contraditório, porque poderia se argumentar que se Deus sabe qual será a decisão futura do homem, logo, o homem estaria limitado a tomar decisões sob esse prisma divino. No entanto a contradição não existe, porque o conhecimento de todas as coisas por parte de deus, está inserida num contexto maior, ou seja: a onipotência e a onisciência do criador.
Esses atributos exclusivos de Deus explicam, claramente, ser o conhecimento divino uma consequencia lógica do seu poder absoluto e de seu conhecimento pleno sobre todas as coisas. Conhecer previamente, a decisão adotada pelo encarnado não retira dele a capacidade de decisão.
O homem escolhe o seu caminho e Deus já conhece, de antemão. A decisão de escolha é do homem (livre-arbítrio). Pretender ter um esclarecimento mais amplo a esse respeito é tentar desvendar a natureza de Deus, que para nós encarnados, está longe de ser conhecida. Nas palavras de kardec “ a inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreendera natureza íntima de deus”
Como sabemos que nada acontece por acaso, e não há sofrimento sem causa e nem dádiva sem merecimento. Portanto, o livre-arbítrio é a faculdade que Deus deu ao homem para que ele se conduza dentro dos parâmetros cristãos, e o determinismo atua para corrigir eventuais distorções que venham a surgir ao longo de nossas jornadas. E a teoria do risco visa facilitar o entendimento do presente e do futuro, aumentando as possibilidades de êxito de todo o encarnado, rumo ao aperfeiçoamento do seu espírito, levando-o a se sentir cada vez mais realizado e feliz, com a compreensão do funcionamento da lei de ação e reação e a visão reencarnacionista da sua existência.
Consulta:
Espiritismo Aplicado (Elizeu Rigonati)
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