quinta-feira, 28 de abril de 2011

Você é o responsável

Joilson José Gonçalves Mendes

Muitas pessoas tem o hábito de reclamar dos infortúnios que assolam suas vidas. Parece que o universo conspira contra estas pessoas. É como o adágio popular “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”. Nestes momentos são poucos os que se lembram de agradecer à Divindade por lembrá-los de que fizeram ou estão fazendo algo errado. Geralmente ficam em um lamentar sem fim querendo encontrar respostas para o mal que aparentemente os arruína. Porque comigo? Porque minha família? Por quê? Por quê? Por quê? Mas qual deveria ser a atitude diante destas dificuldades? A melhor maneira de agir nestes momentos é parar, respirar, orar, agradecer, refletir e agir. 
                 Quando estamos em uma situação turbulenta e não encontramos as respostas que desejamos, PARAR é conduta primordial para encontrarmos o caminho de volta, é desacelerar o estresse físico e mental gerado pela situação. Assim conseguimos observar melhor o que está acontecendo ao nosso redor, perceber nossas atitudes e nossos pensamentos. A correria do dia-a-dia, o avanço tecnológico, a ânsia e ganância do homem pelo dinheiro e poder o induziu a manter-se em total atividade, condicionado pelas regras da sociedade impedindo que reserve um momento para si; parar é retornar ao seu lar interior.
Em seguida RESPIRAR, ao respirarmos lenta e profundamente acalmamos a mente e o coração, aliviamos a tensão, desintoxicamos o organismo, temos mais vitalidade e ficamos mais abertos às intuições, a mente passa a funcionar com mais tranqüilidade e coordenação, a tagarelice mental diminui, podendo nos induzir a estados alterados de consciência e levar a plena comunhão com Deus em um profundo arrebatamento íntimo.
ORAR é o conselho do mestre Jesus, que disse “vigiai e orai”, nos dois primeiros itens conseguimos manter a vigilância, agora é o momento de orar. Pesquisas recentes demonstram que o ato de orar proporciona uma melhor saúde e qualidade de vida. Quando oramos com fé e sentimento evocamos a divindade em nós, elevamos nosso pensamento ao Criador que envia seus emissários ao nosso auxílio, garantindo a proteção de que necessitamos.
O passo seguinte é AGRADECER a Deus pela dificuldade que estamos passando porque é a maneira que ele encontrou de nos alertar e fazer com que voltemos para o caminho correto. Sabemos também, que as dificuldades nos proporcionam a capacidade de crescimento, de superação de nossas forças, passamos a acreditar mais em nós. Se você fizer uma retrospectiva da vida notará que após superar momentos difíceis, saiu mais fortalecido, com aquela sensação de “Eu venci!” é assim que devemos agir, então agradecer sempre. Em pesquisas realizadas com pessoas enfermas, descobriu-se que as que tinham uma atitude de gratidão se recuperavam mais rápido, outras apresentavam uma qualidade de vida melhor, eram mais saudáveis. Devemos manter diariamente uma atitude de gratidão seja pela família, o emprego, os amigos, o alimento, a natureza, pelas dificuldades, etc. Agradecer é reconhecer a presença Divina em nossas vidas. Portanto o ato de agradecimento deve ser nossa atitude primeira ao despertarmos de uma noite de sono e a última ao término da jornada diária de trabalho, quando nos recolhemos para mais uma noite de descanso.
Após completarmos as fases anteriores é momento de REFLETIR sobre o acontecido. O que levou a tal situação? Quais têm sido meus atos e pensamentos em relação a isto? Normalmente não damos conta do que pensamos e como agimos, temos cerca de 60.000 pensamentos no dia, qual a natureza destes pensamentos? Alguém já disse que “você é aquilo em que pensa”. Sabe-se que o pensamento é uma energia muito poderosa e que atraímos aquilo em que pensamos, André Luiz ensina que pelo pensamento somos co-criadores com o Criador, lembre-se você é o responsável. Na Doutrina Espírita temos o conhecimento de que os espíritos menos esclarecidos se aproveitam de nossas fraquezas para incutir em nós pensamentos e idéias contrarias ao ideal a que professamos. Conduzem a nossa vida com perfeita maestria, como a resposta obtida por Kardec na questão 459 de “O livro dos espíritos” - “...são eles quem vos dirigem”. Mas isto não nos isenta da responsabilidade como bem explicam os espíritos na questão 461 da mesma obra.
Qual é a minha parcela de responsabilidade? Muitos poderão dizer que nada fizeram para que o ocorrido se agravasse, tem a tendência de responsabilizar o outro, caso seja verdadeiro, o que duvido muito, lembre-se que você é um ser eterno, que já atuou muitas outras vezes no palco da vida se envolvendo com pessoas que hoje voltam para aparar as arestas do passado e que mecanismos inconscientes surgem, sem que se perceba. A nossa responsabilidade está em nos esforçarmos para expurgarmos de nós todo o mal que ainda possuímos. Allan Kardec disse: “Conhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que faz para melhorar-se”. Você poderá argumentar: “- Mas eu fui o ofendido!” Certa vez um discípulo perguntou ao seu mestre o que deveria fazer para não se ofender quando alguém o provocasse. O mestre em sua sapiência perguntou ao discípulo: “- Se alguém lhe oferece um presente e você o recusa, para quem fica o presente?” O que o discípulo respondeu: “- Com a pessoa que queria presentear”. Então, disse o mestre, faça o mesmo. Recordemos, ainda, o exemplo dado por Jesus que foi humilhado e açoitado inocentemente e em nenhum momento reagiu.
Lembre-se que você é o responsável, se não pela situação desconfortável em que se encontra, passa a ser responsável para buscar o equilíbrio que hora encontra-se pendendo mais de um lado na balança da vida. Pergunte-se o que e como fará para mudar a situação dificultosa em que se encontra. Mantenha a sua serenidade e sua paz interior que Deus enviará os bons espíritos para lhe auxiliar nos momentos de infelicidade.
Nosso último item é AGIR, talvez seja o mais difícil uma vez que teremos que enfrentar a nós mesmos. Primeiramente precisaremos agir contra o orgulho, contra a vaidade, contra a preguiça física e mental. Defeitos estes muito arraigados em nós, devido ao longo tempo em que permanecemos nas fases primeiras de nossa jornada evolutiva. Fomos criados simples e ignorantes, porém ao conquistarmos o direito de agir, o livre arbítrio, agimos de forma egoísta sem nos preocuparmos com o outro e fomos acumulando uma infinidade de defeitos em nós, que por hora surgem em nosso comportamento diário, impedindo-nos de reconhecer a condição de seres espirituais que somos; por isso somos responsáveis.
O AGIR vai muito mais além do que nossa ínfima capacidade intelectual e espiritual pode nos conduzir, devido ao estágio evolutivo em que nos encontramos. Ao tomarmos consciência de nossa situação devemos agir com energia para conosco e responsabilidade diante do próximo.
Começar pelo perdão talvez seja um bom início. Perdoar primeiramente a si mesmo, para livrar-se do sentimento de culpa que emperra o progresso de muitas pessoas ao conscientizarem dos erros cometidos. O sentimento de culpa leva a depressão e esta impede o AGIR. Ao perdoar-se por alguma falta cometida contra o próximo e reconhecer a sua parcela de responsabilidade, seu AGIR consiste em pedir perdão, este é o agir contra o orgulho, humilhe o seu orgulho, sacrifique este orgulho em benefício da sua alma, do Ser em evolução que é você, e perceberá uma sensível mudança em sua vida. Em seguida perdoe aqueles que lhe fizeram mal, “Bem aventurados os misericordiosos”, “Perdoai os vossos inimigos”, ensinou o Cristo Jesus. Muitos são os casos de pessoas e espíritos na erraticidade que tiveram um grande avanço ao perdoarem seus algozes. Encontramos em várias obras psicografadas relatos de casos que após o ato de perdoar os inimigos do passado, retornam como pais e filhos. No entanto perderam muito tempo por não perdoarem antes. Pesquisadores descobriam que quanto mais perdoamos, mais temos vontade de perdoar. Perdoar é livrar-se dos grilhões que nos prendem ao passado e caminhar rumo ao futuro de bênçãos que nos aguarda. Por isso você é o responsável.
Nossas ações devem estar pautadas na consciência, agir conscientemente e não mecanicamente como um robô. Quando começar a agir perceba o que está fazendo, nos mínimos detalhes. Para que cheguemos a um nível de consciência interior é necessário percebermos o exterior, começando pelo ambiente a nossa volta, observe tudo ao seu redor, agora perceba o corpo físico, observe como são seus movimentos, se existe alguma tensão em seu corpo, como está posicionado, etc... Então comece a notar o que acontece em seu interior; o que sente, quais são seus pensamentos, a qualidade de seus pensamentos, qual é a sua reação interior, emoções, cada detalhe é importante. Ao perceber um pensamento incômodo, se você estiver se sentindo triste, magoado, ou até mesmo sentir a necessidade de comprar algo ou comer algo, pergunte-se: De onde vem este pensamento? Qual a sua origem? Isto é verdadeiro? Em seguida fique em silêncio e preste atenção nas respostas, mas não se prenda a resposta, não julgue, nem se condene, apenas observe, observe, observe.
Com prática constante dia-a-dia, minuto-a-minuto, você se tornará um observador de si mesmo, e descobrirá coisas incríveis sobre você que até o momento não sabia. Não importa a sua idade, o importante é se descobrir a cada instante e perceber o quanto tem para mudar, mas esta mudança só depende de você, ninguém chegará com uma varinha de condão e o fará consciente, lembre-se que você é o responsável. Quanto mais você se observar, mais desenvolverá sua consciência e passará a agir com mais clareza e responsabilidade, deixará de ser um robô para tornar-se consciente. Depois de muita prática, e isto poderá levar toda uma vida, chegará o momento em que você perceberá que precisa agir em favor do próximo, pois ampliará sua percepção em um nível que será quase impossível ficar parado sem fazer algo útil. Sentirá a necessidade de fazer algo em benefício dos seres que permanecem em estado de dormência. Este é o nosso próximo tópico do AGIR, a caridade.
Muitos seres iluminados que passaram pela Terra já disseram que “é dando que se recebe” que ao ajudarmos ao próximo estamos ajudando a nós mesmos, pois somos todos filhos do mesmo Pai e estamos interligados pela mesma força criadora. Hoje em dia, com a globalização e o avanço tecnológico podemos observar que ao acontecer uma tragédia em determinada região do globo terrestre, ficamos sabendo em poucos minutos e nos comovemos com esta ocorrência que desperta em nós a vontade de fazer algo para ajudar. Isto é a prova desta interligação com o outro. A prática da caridade deve ser desinteressada, como ensinam os espíritos “fazer o bem, sem olhar a quem” e foi o que Jesus nos ensinou pelo exemplo, ajudava a todos indiscriminadamente.
André Luiz ensina que quando passamos por momentos de forte emoção geramos luz interior e esta energia nos proporciona uma mudança em nossa estrutura espiritual. Se fizermos uma análise da nossa vida iremos perceber que muitas vezes tivemos uma vontade muito grande de ajudar alguém e ao realizarmos este ato caridoso, sentimos uma satisfação, um preenchimento interior tão grande que nenhum bem material, nada poderia substituir aquele sentimento, parece que nos sentimos uno com o criador. Ainda assim, devido às nossas imperfeições, nos privamos destes momentos na maior parte do nosso tempo, desperdiçando nossa existência com prazeres fúteis.
A caridade é um ato de amor e devemos praticá-la a cada instante, começando por aqueles que estão próximos a nós, nossa família. Muitas vezes os pais, o cônjuge ou filhos não compreendem certos posicionamentos a que nos colocamos e temos o dever de compreendê-los, “a quem mais foi dado, mais será cobrado”, nós somos os responsáveis. Sabemos que uma família não se une por acaso, os espíritos nos ensinam que muitas vezes reúnem-se no mesmo lar os inimigos do passado, por isso a caridade deve começar em casa.
Não necessitamos de dinheiro para praticarmos a caridade, ela pode ser praticada em vários momentos do nosso dia, ao cumprimentarmos um colega de trabalho, sendo educado com todos dando a atenção que a pessoa merece, fazendo uma oração em benefício dos enfermos, prestando um serviço voluntário, no trânsito, respeitando o pedestre, visitando hospitais, creches, asilos, contribuindo com campanhas de agasalho, alimentos e outras, enfim, oportunidades de sermos úteis não nos falta, o que nos falta é a coragem de sairmos da nossa zona de conforto para irmos ao encontro do próximo. E se hoje nossa sociedade está em decadência, lembre-se você é o responsável quando deixa de fazer a sua parte. Pratique a caridade desinteressada, o amor incondicional e com certeza colherá bons frutos nesta e noutras vidas.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

- Kardec, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo
- Kardec, Allan. O livro dos espíritos
- Xavier, Francisco Candido. Mecanismos da mediunidade – Pelo Espírito André Luiz
- Franco, Divaldo Pereira .Vida desafios e soluções - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
- Franco, Divaldo Pereira .O ser consciente - Pelo Espírito Joanna de Ângelis

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