Por: Joilson Mendes
O assunto em tela é motivo de
várias discussões nas casas espíritas em seus grupos de estudos. Sempre fica a
dúvida se determinado acontecimento, principalmente os que envolvem tragédias
familiares, foi uma fatalidade, se estava no destino daquela pessoa passar por
tal situação ou foi livre arbítrio. Nestes casos, qual explicação dada a Kardec
pelos espíritos?
Para esclarecermos este assunto,
utilizaremos por base o caso da mãe grávida, que foi baleada na cabeça, em uma
tentativa de assalto, no Rio de Janeiro, no dia 13 de janeiro de 2018. Mas nem
ela e nem o bebê ficaram com qualquer sequela. A referência está citada abaixo
e os grifos no texto foram deixados para destacar a relevância das respostas
apresentadas pelos espíritos.
Nesta análise utilizamos
especificamente O Livro dos Espíritos, onde consta os atributos de Deus e um
deles é ser soberanamente justo e bom, logo, podemos deduzir que tudo o que nos
acontece está enquadrado na justiça divina, caso contrário, ao admitirmos uma
injustiça, Deus não existiria e não teríamos razões para continuar com este
artigo.
Logo nas primeiras questões de O
Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se é dado ao homem conhecer o princípio
das coisas (Q17/18). Os espíritos dizem que o homem não pode conhecer tudo e à
proporção de sua evolução poderá compreende-las, mas que ainda lhe faltam
certas faculdades.
Por mais que nos esforcemos para entender
certos acontecimentos na vida, não temos a capacidade para uma compreensão
plena. No caso em análise, não temos como afirmar, categoricamente, de que é
isso ou aquilo, mas, com base nos ensinamentos deixados pelos espíritos podemos
levantar algumas suposições.
Nas (Q258/259), foi perguntado se
antes de começar uma nova existência o
Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida.
E a resposta é que ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar,
porém, os detalhes são consequência da situação em que vive e de suas ações.
Entende-se que o espírito escolhe
passar por uma experiência terrena de privações materiais, ou viver na
abundância, ser uma pessoa de destaque na sociedade, passar por momentos
dificultosos, ter uma morte violenta, etc. Perceba que o espírito fez a escolha
do gênero, mas os detalhes de como poderá acontecer faz parte dos mistérios que
ao homem não foi dado conhecer.
Nas perguntas de 851 a 866, Kardec
questionou insistentemente sobre o tema e os espíritos foram taxativos em
apresentar sempre a mesma resposta. Mesmo o codificador tendo feito as
perguntas de maneira diferente, para ver se os espíritos entrariam em
contradição, uma frase sempre era repetida por eles, a de que a fatalidade somente se configura pelas
escolhas que nós mesmos fizemos antes de reencarnar. Logo, temos o
livre arbítrio pela escolha feita e a “fatalidade”, também pela escolha que
fizemos.
E aquelas pessoas que tudo de ruim
acontece na vida delas? A pessoa vive doente, nunca tem dinheiro suficiente
para comprar medicamentos, comida, tem dificuldade de arrumar um trabalho e
quando arruma não fica muito tempo empregada, não seria esse o destino dessa
pessoa?
Foi a escolha da prova que ela fez
antes da reencarnação, dizem os espíritos. Mas poderá você se questionar sobre
ter escolhido uma vida tão dura, será que eu teria feito mesmo esta escolha? Esclarecem-nos
os espíritos que, quando estamos fora do corpo físico nossa visão a respeito da
universalidade da vida é ampliada e sabemos que tal escolha foi feita com base
na percepção do progresso espiritual, não na estreita visão material da vida
encarnada que é apenas passageira.
A (Q853 a) é categoria: “Assim, qualquer que seja o período que nos
ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?”
“Não, não morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas
quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência
qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito
também o sabe, pois isso lhe foi
revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.”
Considerando o caso em questão, poderíamos
perguntar o por que de passar por uma experiência desta natureza. Esta foi a (Q
855) que Kardec também fez aos espíritos, e obteve como resposta o seguinte:
“...é essa uma advertência que tu
mesmo desejaste, afim de te desviar do mal e te tornar melhor”.
Na (Q859 a) foi perguntado: “Há fatos que devem ocorrer forçosamente
e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?” Resposta: “Sim, mas
que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste ao fazer a tua escolha. (...)”
A (Q860) Kardec ainda tenta
levantar a possibilidade de realmente existir um destino inalterável ao
perguntar se, pela nossa vontade e atos podemos evitar certos acontecimentos. Os
espíritos chamam de “desvio aparente
que possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu”. Percebam quem
nem mesmo pela nossa vontade, enquanto encarnados, poderemos evitar certos
acontecimentos que escolhemos passar quando em estado de espírito livre da
matéria, demonstrando novamente que, prevalecerá a escolha que fizemos antes de
reencarnarmos, uma vez que a nossa percepção da vida era de maior amplitude.
Ainda na (Q866), traz o
esclarecimento derradeiro sobre a fatalidade e o livre arbítrio. “Então, a fatalidade que parece presidir aos
destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso
livre-arbítrio?” Resposta: Tu
mesmo escolheste a tua prova; (...)”.
Diante do acima exposto, observa-se
que tanto a “fatalidade” quanto o “destino” são o nosso livre arbítrio mal
compreendido. São acontecimentos que fogem ao pleno conhecimento de todos nós,
seres encarnados e que ainda tem muito a aprender, devido a nossa imperfeição
intelectual e moral.
Contudo, você poderá levantar as
seguintes perguntas: Se uma pessoa escolheu passar por uma situação difícil
como o caso apresentado, outro espírito escolheu ser o atirador? E no caso de
pessoas que morrem em um acidente de trânsito, em que um motorista alcoolizado,
mata toda uma família, foi ele quem escolheu aquela situação? Em um atentado
terrorista, em que o atirador dispara uma arma matando dezenas de pessoas, ele
escolheu matar? Pois se alguém escolheu morrer, outro deve ter escolhido matar,
isso me parece lógico, não é? Os espíritos nos esclarecem que ninguém nasce com
o objetivo de fazer o mal.
Vamos recorrer às questões de O
Livro dos Espíritos:
“459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e
em nossos atos?
R: Muito mais do
que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.
525. Exercem os Espíritos alguma influência nos
acontecimentos da vida?
R: Certamente,
pois que vos aconselham.”
Considerando que vivemos em um
mundo de provas e expiações; que o mal ainda prevalece sobre o bem; que a
probabilidade de alguém de má tendência realizar uma má ação é maior que a de
realizar uma boa ação; que o número de espíritos desencarnados é muito superior
aos encarnados; e as questões supracitadas, vamos encontrar nas questões de 526
a 532, de O Livro dos Espíritos, respostas apresentadas no sentido de que os
espíritos vão agir sempre no sentido de cumprir as leis da natureza e nunca
contrário a estas leis. Recomendamos a leitura destas perguntas para melhor entendimento.
Não vamos comentá-las com maior profundidade para que este artigo não se
alongue mais que o necessário.
Os espíritos vão inspirar sugestões
para alguém realizar tal ação, mas ainda assim o seu livre arbítrio
prevalecerá, a pessoa poderá ou não disparar a arma, dirigir alcoolizado,
cometer um ato ruim; ou abaixar-se, seguir outro caminho, não embarcar em um
avião, etc. Vamos lembrar os diversos casos de obsessão, onde o obsedado
realiza tarefas que depois nem se lembra. O caso de Jesus que ao questionar um
mal espírito sobre quem era, teve como resposta “legião” e muitos outros casos
narrados nas obras de Chico Xavier, todos comprovando a influência dos
espíritos sobre cada um de nós.
No caso apresentado podemos dizer
com base na (Q 855) supramencionada, que foi uma escolha da família passar por
uma situação de advertência, qual o fim? Não temos como responder. Quanto ao
assaltante, foi um instrumento utilizado, e por que não dizer, manipulado por
mentes perversas, considerando a sua natureza espiritual para realizar tal
feito. Por que nada de mal aconteceu a mulher e a criança? Voltemos a (Q 853
a), não era a hora.
Referêncial Bibliográfico
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/mae-que-foi-baleada-gravida-no-rj-agradece-a-deus-apos-alta-do-filho-sem-sequelas.ghtml - Acessado em 10/03/18.