O texto abaixo se refere a um
apanhado sobre a importância do magnetismo nas obras de Kardec. O codificador
estudou o magnetismo por 35 anos antes de codificar a Doutrina Espírita, disseminou
esse conhecimento em suas obras e concentrou maiores explicações na Revista Espírita. O objetivo
aqui é apenas demonstrar que o magnetismo não é uma “moda” recente no movimento espírita, antes sim, um fato
esquecido, não observado ou dado como de menor importância nos estudos
espíritas. Que possamos dar uma maior atenção a esta ciência e estudá-la com a mente
aberta, sem preconceitos ou julgamentos, com espírito livre para as novas
possibilidades de crescimento intelectual e espiritual. Alguém já mencionou que
a ignorância é a mãe de todos os males, aos estudos, portanto.
Para esse apanhado foi procedido
do seguinte modo: aberta as obras básicas em PDF e realizada a busca pelas
palavras magnetismo, magnetizador e magnética, à medida que apareciam, foram
copiados os textos em referência e colados aqui, logo não existe uma sequência
lógica nos textos; como mencionado acima é apenas para verificar a importância
que Allan Kardec dava ao magnetismo.
Inicialmente pensei em extrair
pontos mais expressivos para escrever algo direcionado, mas considerando a
relevância do assunto resolvi deixar como pesquisado para facilitar a busca daqueles que lerem este texto e decidirem por encontrar ainda mais informações a
respeito deste assunto tão importante no meio espírita. A partir deste, cabe a
cada um aprofundar os estudos e chegar às suas próprias conclusões.
(REVISTA ESPÍRITA
JANEIRO DE 1869)
O magnetismo e o Espiritismo são,
com efeito, duas ciências gêmeas, que se
completam e explicam uma pela outra, e das duas, a que não quer imobilizar-se
não pode chegar ao seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas uma
da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente como a Física
e a Química, a Anatomia e a Fisiologia. A maioria dos magnetistas compreende de tal modo por intuição a relação
íntima que deve existir entre as duas coisas, que geralmente se prevalecem de
seus conhecimentos em magnetismo,
como meio de introdução junto aos espíritas.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - INTRODUÇÃO
Segundo a primeira dessas teorias, todas as manifestações
atribuídas aos Espíritos não seriam mais do que efeitos magnéticos.
Os médiuns se achariam num estado a que se poderia chamar sonambulismo
desperto, fenômeno de que podem dar testemunho todos os que hão estudado o
magnetismo. Nesse estado, as faculdades intelectuais adquirem um
desenvolvimento anormal; o círculo das operações intuitivas se amplia,
para além das raias da nossa concepção ordinária. Assim sendo, o médium
tiraria de si mesmo e por efeito da sua lucidez tudo o que diz e todas as
noções que transmite, mesmo sobre os assuntos que mais estranhos lhe sejam,
quando no estado habitual. (O L.E – Introdução)
33. A mesma matéria elementar é suscetível de
experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades?
“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos que
tudo está em tudo!” (1)
O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os
corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância
primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser
pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros
elementos e podemos, sem maiores consequências, tê-los como tais, até nova
ordem.
(1) Este princípio
explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que
consiste em dar-se, pela ação da vontade, a uma substância qualquer, à água, por
exemplo, propriedades muito diversas: um gosto determinado e até as qualidades
ativas de outras substâncias. Desde que não há mais de um elemento primitivo e
que as propriedades dos diferentes corpos são apenas modificações desse
elemento. o que se segue é que a mais inofensiva substância tem o mesmo princípio
que a mais deletéria. Assim, a água, que se compõe de uma parte de oxigênio e
de duas de hidrogênio, se torna corrosiva, duplicando-se a proporção do
oxigênio. Transformação
análoga, se pode produzir por meio de ação magnética dirigida pela vontade.
Simpatia e antipatia terrenas
386. Podem dos seres, que se conheceram e estimaram,
encontrar-se noutra existência corporal e reconhecer-se?
“Reconhecer-se, não. Podem, porém, sentir-se atraídos um para o
outro. E, frequentemente, diversa não é a causa de íntimas ligações
fundadas em sincera afeição. Um do outro dois seres se aproximam devido a
circunstâncias aparentemente fortuitas, mas que na realidade resultam da atração de dois Espíritos, que se buscam
reciprocamente por entre a multidão.”
a) - Não lhes seria agradável reconhecerem-se?
“Nem sempre. A
recordação das passadas existências teria inconvenientes maiores do que
imaginais. Depois de mortos, reconhecer-se-ão e saberão que tempo passaram
juntos.” (392)
387. A simpatia tem sempre por princípio um anterior conhecimento?
“Não. Dois Espíritos, que se ligam bem,
naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecido como homens.” (Podem ter se conhecidos
no plano espiritual/na erraticidade)
388. Os encontros, que costumam dar-se, de algumas
pessoas e que comumente se atribuem ao acaso, não serão efeito de uma certa
relação de simpatia?
“Entre os seres pensantes há ligação que ainda não
conheceis. O magnetismo é o piloto desta ciência,
que mais tarde compreendereis melhor.”
389. E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas
pessoas, donde se origina?
“São Espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem
, sem se falarem.”
(Na questão 386 os que se estimaram NÃO se reconhecem, mas os
antipáticos SE
RECONHECEM? Estranho, não?)
DA EMANCIPAÇÃO DA ALMA
424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem e restituir-se à vida um ser que definitivamente
morreria se não fosse socorrido?
“Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos, constitui, muitas
vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe
falta para manter o funcionamento dos órgãos.”
A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é
a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica
ainda inexplicada. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das
forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na
catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do
corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a
torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética.
Convulsionários
481. Desempenham os Espíritos algum papel nos fenômenos
que se dão com os indivíduos chamados convulsionários?
“Sim e muito importante, bem como o magnetismo,
que é a causa originária de tais fenômenos. O
charlatanismo, porém, os tem amiúde explorado e exagerado, de sorte a lançá-los
ao ridículo.
” a) De que natureza são, em geral, os Espíritos que
concorrem para a produção desta espécie de fenômenos?
“Pouco elevada. Supondes que Espíritos superiores se
deleitem com tais coisas?”
482. Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma
população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises
nervosas?
“Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui
facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos
que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no
fato, por simpatia com os que os provocam.”
Entre as singulares faculdades que se notam nos
convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos
oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais
como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a
transmissão das dores, por simpatia, etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles
em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo
desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são
ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados,
inconscientemente.
483. Qual a causa da insensibilidade física que se
observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos
às mais atrozes torturas?
“Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo que
atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias.
Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que
nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não
sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo
nada sente, nada vê e nada ouve?”
A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em
casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não
seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a
sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se
que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão
gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples
arranhadura os poria trêmulos.
Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da
ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma
autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente
secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais
fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu
essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era,
passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder,
porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, demais, que semelhante
intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é
direta e espontânea.
DA INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS
552. Que se deve pensar da crença no poder, que certas
pessoas teriam, de enfeitiçar?
“Algumas pessoas dispõem de grande força magnética,
de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios Espíritos, caso em que
possível se torna serem secundados por outros Espíritos maus. Não creias,
porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação de criaturas
supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos que
citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal observados e sobretudo mal compreendidos.”
555. Que sentido se deve dar ao qualificativo de
feiticeiro?
“Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas que, quando
de boa-fé, gozam de certas faculdades, como sejam a força magnética
ou a dupla vista. Então, como fazem coisas geralmente incompreensíveis, são
tidas por dotadas de um poder sobrenatural. Os vossos sábios não têm passado
muitas vezes por feiticeiros aos olhos dos ignorantes?”
O Espiritismo e o magnetismo
nos dão a chave de uma imensidade de
fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em
que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única,
mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor
preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é possível e
o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de
ridícula crendice.
556. Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de
curar pelo simples contacto?
“A força magnética pode chegar até
aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de
fazer o bem, porque então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre, porém,
desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito
entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que há de mais simples
e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que
costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.”
O LIVRO DOS MÉDIUNS
DO MARAVILHOSO E DO SOBRENATURAL – CAP II
Esclarecendo-nos com relação a essa potência, o Espiritismo
nos dá a explicação de uma imensidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis
por qualquer outro meio e que, à falta de toda explicação, passaram por
prodígios, nos tempos antigos. Do mesmo modo que o magnetismo,
ele nos revela uma lei, se não desconhecida, pelo menos mal compreendida; ou,
mais acertadamente, de uma lei que se desconhecia, embora se lhe conhecessem os
efeitos, visto que estes sempre se produziram em todos os tempos, tendo a
ignorância da lei gerado a superstição. Conhecida ela, desaparece o maravilhoso
e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis por que, fazendo que
uma mesa se mova, ou que os mortos escrevam, os espíritas não operam maior
milagre do que opera o médico que restitui à vida um moribundo, ou o físico que
faz cair o raio. Aquele que pretendesse, por meio desta ciência,realizar
milagres,seria ou ignorante do assunto, ou embusteiro.
Se um homem realmente morto, como dissemos em começo,
ressuscitar por intervenção divina, haverá aí verdadeiro milagre, porque isso é
contrário às leis da Natureza.
Se, porém, tal homem só aparentemente
está morto, se ainda há nele um resto de vitalidade latente e a ciência ou uma ação magnética consegue reanimá-lo, um fenômeno natural é o que isso será para pessoas
instruídas. Todavia, aos olhos do vulgo ignorante, o fato passará por
milagroso, e o autor se verá perseguido a pedradas, ou venerado, conforme o
caráter dos indivíduos. Solte um físico, em campo de certa natureza, um
papagaio elétrico e faça, por esse meio, cair um raio sobre uma árvore e o novo
Prometeu será tido certamente como senhor de um poder diabólico. E, seja dito
de passagem, Prometeu nos parece, muito singularmente, ter sido um precursor de
Franklin; mas, Josué, detendo o movimento do Sol, ou, antes, da Terra, esse
teria operado verdadeiro milagre, porquanto não conhecemos magnetizador algum dotado de tão grande poder, para realizar tal
prodígio.
16. Os fenômenos espíritas, assim como os fenômenos magnéticos, antes que se lhes conhecesse a causa, tiveram
que passar por prodígios. Ora, como os cépticos, os espíritos fortes, isto é,
os que gozam do privilégio exclusivo da razão
e do bom-senso, não admitem que uma coisa seja possível, desde que não a
compreendam, de todos os fatos considerados prodigiosos fazem objeto de suas
zombarias. Pois que a religião conta grande número de fatos desse gênero, não creem
na religião e daí à incredulidade absoluta o passo é curto. Explicando a maior
parte deles, o Espiritismo lhes assina uma razão de ser.
42. Sistema das causas físicas.
Aqui, estamos fora do sistema da negação absoluta.
Averiguada a realidade dos fenômenos, a primeira idéia que naturalmente acudiu
ao espírito dos que os verificaram foi a de atribuir os movimentos ao magnetismo, à eletricidade, ou à ação de um fluido qualquer;
numa palavra, a uma causa inteiramente física e material. Nada apresentava de
irracional esta opinião e teria prevalecido, se o fenômeno houvera ficado
adstrito a efeitos puramente mecânicos. Uma circunstância parecia mesmo
corroborá-la: a do aumento que, em certos casos, experimentava a força atuante,
na razão direta do número das pessoas presentes. Assim, cada uma destas podia
ser considerada como um dos elementos de uma pilha elétrica humana. Já dissemos
que o que caracteriza uma teoria verdadeira é poder dar a razão de tudo.
CAPÍTULO III
DAS MANIFESTAÇÕES
INTELIGENTES
65. No que acabamos de ver, nada certamente revela a
intervenção de uma potência oculta e os efeitos que passamos em revista
poderiam explicar-se perfeitamente pela ação de uma corrente magnética, ou elétrica, ou, ainda, pela de um fluido
qualquer. Tal foi, precisamente, a primeira solução dada a tais fenômenos e
que, com razão, podia passar por muito lógica. Teria, não há dúvida,
prevalecido, se outros fatos não tivessem vindo demonstrá-la insuficiente. Estes
fatos são as provas de inteligência que eles deram. Ora, como todo efeito inteligente há de por força derivar de uma causa
inteligente, ficou evidenciado que, mesmo admitindo-se, em tais casos, a
intervenção da eletricidade, ou de qualquer outro fluido, outra causa a essa se
achava associada. Qual era ela? Qual a inteligência? Foi o que o seguimento das
observações mostrou.
CAPÍTULO IV
DA TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS
XIX. Por que é que nem toda gente pode produzir o mesmo
efeito e não têm todos os médiuns o mesmo poder?
"Isto depende da organização e da maior ou menor
facilidade com que se pode operar a combinação dos fluidos. Influi também a
maior ou menor simpatia do médium para com os Espíritos que encontram nele a
força fluídica necessária. Dá-se com esta força o que se verifica com a dos magnetizadores, que não é igual em todos. A esse respeito, há mesmo pessoas que são de todo
refratárias; outras com as quais a combinação só se opera por um esforço de
vontade da parte delas; outras, finalmente, com quem a combinação dos fluidos
se efetua tão natural e facilmente, que elas nem dão por isso e servem de
instrumento a seu mau grado, como atrás dissemos."
NOTA. Estes fenômenos têm sem dúvida por princípio o magnetismo,
porém, não como geralmente o entendem. A prova está na existência de poderosos magnetizadores que não conseguiram fazer que uma
pequenina mesa se movesse e na de pessoas que não logram magnetizar
a ninguém, nem mesmo a uma criança, às quais, no entanto, basta que ponham os
dedos sobre uma mesa pesada, para que esta se agite. Assim, desde que a força mediúnica não
guarda proporção com a força magnética,
é que outra causa existe.
DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS
"Todos vós espíritas compreendeis as minhas explicações
e perfeitamente apreendeis o que seja essa concentração de fluidos especiais,
para a locomoção e a tatilidade da matéria inerte. Acreditais nisso, como
acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo,
com os quais os fatos mediúnicos têm
grande analogia e de que são, por assim dizer, a confirmação e o
desenvolvimento. Quanto aos incrédulos e aos sábios, piores estes do
que aqueles, não me compete convencê-los e com eles não me ocupo.
Convencer-se-ão um dia, por força da evidência, pois que forçoso será se curvem
diante do testemunho dos fatos espíritas, como forçoso foi que o fizessem
diante de outros fatos, que a princípio repeliram.
CAP VIII
131. Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem
conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o
da mudança das propriedades da água,
por obra da vontade.
O Espírito atuante é o do
magnetizador, quase
sempre assistido por outro Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, e a
substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora,
desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode também
produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito
curativo da ação magnética, convenientemente dirigida.
Sabe-se que papel
capital desempenha a vontade em todos os
fenômenos do magnetismo.
Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A vontade não
é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da
matéria mais etérea que exista. A vontade
é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio
dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva,
reage sobre seus compostos, cujas
propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.
Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do
Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder
que se sabe estar na razão direta da força
de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar,
pode do mesmo modo mudar-lhe as
propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de
cura pelo contacto e pela imposição das mãos,
faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado. (Veja-se,
no capítulo dos Médiuns, o parágrafo referente aos Médiuns curadores.
Veja-se também a Revue Spirite, de julho de 1859, págs. 184 e 189: O
zuavo de Magenta; Um oficial do exército da Itália.)
DOS MÉDIUNS
7. Médiuns
curadores
175. Unicamente para não deixar de mencioná-la, falaremos
aqui desta espécie de médiuns, porquanto o assunto exigiria desenvolvimento
excessivo para os limites em que precisamos ater-nos. Sabemos, ao demais, que
um de nossos amigos, médico, se propõe a tratá-lo em obra especial sobre a
medicina intuitiva. Diremos apenas que este gênero de mediunidade consiste,
principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto,
sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é
do que magnetismo. Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel; porém, quem
examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no caso que
apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso. Todos os magnetizadores
são mais ou menos aptos a curar, desde
que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo que nos médiuns
curadores a faculdade é espontânea e
alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que é o que constitui a
mediunidade, se faz manifesta, em
certas circunstâncias, sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que
podem, com razão, ser qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é
uma verdadeira evocação. (Veja-se atrás o n. 131.)
176. Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às
perguntas que lhes dirigimos sobre este assunto:
1ª Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como formando uma variedade de médiuns?
"Não há que duvidar."
2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os
Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em
si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de
nenhuma potência estranha.
"É um erro;
a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se
interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta
a tua força e a tua vontade, dirige o teu
fluido e lhe dá as qualidades necessárias."
3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que
não creem nos Espíritos?
"Pensas então que os Espíritos só atuam nos que creem
neles? Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o
desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal
e pelas más intenções, chama os maus."
4ª Agiria com maior eficácia aquele que, tendo a força magnética, acreditasse na intervenção dos Espíritos?
"Faria coisas que consideraríeis milagre."
5ª Há pessoas que verdadeiramente possuem o dom de curar
pelo simples contacto, sem o emprego dos passes magnéticos?
"Certamente; não tens disso múltiplos exemplos?"
6ª Nesse caso, há também ação magnética,
ou apenas influência dos Espíritos?
"Uma e outra
coisa. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob a
influência dos Espíritos; isso, porém, não quer dizer que sejam quais médiuns
curadores, conforme o entendes."
7ª Pode transmitir-se esse poder?
"O poder, não;
mas o conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o
possua. Não falta quem não suspeite sequer de que tem esse poder, se não
acreditar que lhe foi transmitido."
8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?
"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no
entanto, que o bem do doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais
que a vossa prece não foi ouvida."
9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
"Somente a superstição pode emprestar virtudes
quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias,
prescrevendo fórmulas. Pode,
entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e
incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada
fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é na
fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da idéia ligada
ao uso da fórmula."
DA FORMAÇÃO DOS MÉDIUNS
CAP XVII
206. Um meio que muito frequentemente dá bom resultado
consiste em empregar-se, como auxiliar de ocasião, um bom médium escrevente,
maleável, já formado. Pondo ele a mão, ou os dedos, sobre a mão do que deseja
escrever, raro é que este último não o faça imediatamente. Compreende-se o que
em tal circunstância se passa: a mão que segura ó lápis se torna, de certo
modo, um apêndice da mão do médium, como o seria uma cesta, ou uma prancheta.
Isto, porém, não impede que esse exercício seja muito útil, quando é possível
empregá-lo, visto que, repetido amiúde e regularmente, ajuda a vencer o
obstáculo material e provoca o desenvolvimento da faculdade. Algumas vezes,
basta mesmo que o médium magnetize, com essa
intenção, a mão e o braço daquele que quer escrever. Não raro até limitando-se
o magnetizador a colocar a mão no ombro daquele,
temo-lo visto escrever prontamente sob essa influência. Idêntico efeito pode também produzir-se sem
nenhum contacto, apenas por ato da vontade
do auxiliar. Concebe-se facilmente que a confiança do magnetizador
no seu poder, para produzir tal resultado, há de aí desempenhar papel
importante e que um magnetizador incrédulo fraca ação ou nenhuma,
exercerá.
O concurso de um guia experimentado é, além disso, muito
útil, às vezes, para apontar ao principiante uma porção de precauçõezinhas que
ele frequentemente despreza, em detrimento da rapidez de seus progressos.
Sobretudo o é para esclarecê-lo sobre a natureza das primeiras questões e sobre
a maneira de propô-las. Seu papel é o de um professor, que o aprendiz
dispensará logo que esteja bem habilitado.
207. Outro meio, que também pode contribuir fortemente para
desenvolver a faculdade, consiste em reunir-se certo número de pessoas, todas
animadas do mesmo desejo e comungando na mesma intenção. Feito isso, todas
simultaneamente, guardando absoluto silêncio e num recolhimento religioso,
tentem escrever, apelando cada um para o seu anjo de guarda, ou para qualquer
Espírito simpático. Ou, então, uma delas poderá dirigir, sem designação
especial e por todos os presentes, um apelo aos bons Espíritos em geral,
dizendo por exemplo: Em nome de Deus Todo-Poderoso, pedimos aos bons Espíritos
que se dignem de comunicar-se por intermédio das pessoas aqui presentes. E raro
que entre estas não haja algumas que deem prontos sinais de mediunidade, ou que
até escrevam correntemente em pouco tempo.
Compreende-se o que em tal caso ocorre. Os que se reúnem com
um intento comum formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se
encontram acrescidas por uma espécie de
influência magnética, que auxilia o
desenvolvimento da faculdade. Entre os Espíritos atraídos por esse concurso de
vontades estarão, provavelmente, alguns que descobrirão nos assistentes o
instrumento que lhes convenha. Se não for este, será outro e eles se
aproveitarão desse.
Este meio deve sobretudo ser empregado nos grupos espíritas a
que faltam médiuns, ou que não os possuam em número suficiente.
CAP XXIII – DA OBSESSÃO
251. A subjugação corporal tira muitas vezes ao obsidiado a
energia necessária para dominar o mau Espírito. Daí o tornar-se precisa a
intervenção de um terceiro, que atue, ou pelo magnetismo,
ou pelo império da sua vontade. Em
falta do concurso do obsidiado, essa terceira pessoa deve tomar ascendente
sobre o Espírito; porém, como este
ascendente só pode ser moral, só a um ser moralmente superior ao
Espírito é dado assumi-lo e seu poder
será tanto maior, quanto maior for a sua superioridade moral, porque,
então, se impõe àquele, que se vê forçado a inclinar-se diante dele. Por isso é
que Jesus tinha tão grande poder para expulsar o que naquela época se chamava
demônio, isto é, os maus Espíritos obsessores.
Aqui, não podemos oferecer mais do que conselhos gerais,
porquanto nenhum processo material existe, como, sobretudo, nenhuma fórmula,
nenhuma palavra sacramental, com o poder de expelir os Espíritos obsessores. As
vezes, o que falta ao obsidiado é força
fluídica suficiente; nesse caso, a ação magnética de um bom
magnetizador lhe pode ser de grande proveito. Contudo, é sempre
conveniente procurar, por um médium de confiança, os conselhos de um Espírito
superior, ou do anjo guardião.
DAS REUNIÕES E DAS SOCIEDADES ESPÍRITAS
CAPÍTULO XXIX
331. Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades
são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este
feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for. Se houver compreendido
bem o que foi dito (n. 282, pergunta 5), sobre a maneira por que os Espíritos
são avisados do nosso chamado, facilmente se compreenderá o poder da associação dos pensamentos dos
assistentes. Desde que o Espírito é de certo modo atingido pelo pensamento, como nós somos pela voz, vinte pessoas,
unindo-se com a mesma intenção, terão necessariamente mais força do que uma só;
mas, a fim de que todos esses pensamentos concorram para o mesmo fim, preciso é que vibrem em uníssono;
que se confundam, por assim dizer, em um só, o que não pode dar-se sem a
concentração.
Por outro lado, o Espírito, em chegando a um meio que lhe
seja completamente simpático, aí se sentirá mais à vontade. Sabendo que só
encontrará amigos, virá mais facilmente e mais disposto a responder. Quem quer
que haja acompanhado com alguma atenção as manifestações espíritas inteligentes
forçosamente se há convencido desta verdade. Se os pensamentos forem divergentes, resultará daí um choque de ideias
desagradável ao Espírito e, por conseguinte, prejudicial à comunicação.
O mesmo acontece com um homem que tenha de falar perante uma assembleia: se
sente que todos os pensamentos lhes são simpáticos e benévolos, a impressão que
recebe reage sobre as suas próprias ideias e lhes dá mais vivacidade. A unanimidade desse concurso exerce
sobre ele uma espécie de ação magnética que
lhe decuplica os recursos, ao passo que a
indiferença, ou a hostilidade o perturbam e paralisam. E assim que os
aplausos eletrizam os atores. Ora, os Espíritos muito mais impressionáveis do
que os humanos, muito mais fortemente do que estes sofrem, sem dúvida, a
influência do meio.
Toda reunião espírita deve, pois, tender para a maior homogeneidade possível. Está entendido
que falamos das em que se deseja chegar a resultados sérios e verdadeiramente
úteis. Se o que se quer é apenas
obter comunicações sejam estas quais forem, sem nenhuma atenção â
qualidade dos que as deem, evidentemente desnecessárias se tornam todas essas
precauções; mas, então, ninguém tem
que se queixar da qualidade do produto.
(Trabalhos direcionados X Trabalhos
“espontâneo”)
Aqui percebo a diferença em nossos trabalhos de quando
deixávamos simplesmente acontecer, com a direção que damos hoje, obtendo
resultados mais significativos.
A AGÊNESE
AS LEIS E AS FORÇAS
10. - Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os
corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e
dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da
matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas múltiplas
forças, indefinidamente variadas segundo as combinações da matéria, localizadas
segundo as massas, diversificadas em seus modos de ação, segundo as
circunstâncias e os meios, são conhecidas na Terra sob os nomes de gravidade,
coesão, afinidade, atração, magnetismo,
eletricidade ativa. Os movimentos vibratórios do agente são conhecidos sob os
nomes de som, calor, luz, etc. Em outros mundos, elas se apresentam sob outros
aspectos, revelam outros caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa
amplidão dos céus, forças em número indefinito se têm desenvolvido numa escala
inimaginável, cuja grandeza tão incapazes somos de avaliar, como o é o
crustáceo, no fundo do oceano, para apreender a universalidade dos fenômenos
terrestres.
CAP XIII
O ESPIRITISMO NÃO FAZ MILAGRES
2. - Aos olhos dos ignorantes, a Ciência faz milagres todos
os dias. Se um homem, que se ache realmente morto, for chamado à vida por
intervenção divina, haverá verdadeiro milagre, por ser esse um fato contrário
às leis da Natureza. Mas, se em tal homem houver apenas aparências de morte, se
lhe restar uma vitalidade latente e a Ciência, ou uma ação magnética, conseguir
reanimá-lo, para as pessoas esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural,
mas, para o vulgo ignorante, o fato passará por miraculoso. Lance um físico, do
meio de certas campinas, um papagaio elétrico e faça que o raio caia sobre uma
árvore e certamente esse novo Prometeu será tido por armado de diabólico poder.
Houvesse, porém, Josué detido o movimento do Sol, ou, antes, da Terra e
teríamos aí o verdadeiro milagre, porquanto nenhum magnetizador
existe dotado de bastante poder para operar semelhante prodígio.
12. - Os fenômenos espíritas são as mais das vezes
espontâneos e se produzem sem nenhuma idéia preconcebida da parte das pessoas
com quem eles se dão e que, em regra, são as que neles menos pensam. Alguns há
que, em certas circunstâncias, podem ser provocados pelos agentes denominados
médiuns. No primeiro caso, o médium é inconsciente do que se produz por seu
intermédio no segundo, age com conhecimento de causa, donde a classificação de
médiuns conscientes e médiuns inconscientes. Estes últimos são os mais
numerosos e se encontram com frequência entre os mais obstinados incrédulos
que, assim, praticam o Espiritismo sem o saberem, nem quererem. Por isso mesmo,
os fenômenos espontâneos revestem capital importância, visto não se poder
suspeitar da boa-fé dos que os obtêm. Dá-se aqui o que se dá com o sonambulismo
que, em certos indivíduos, é natural e involuntário, enquanto que noutros é
provocado pela ação magnética. (1)
(1) O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. V. - Revue
Spirite; exemplos: dezembro de 1865, pág. 370, agosto de 1865, pág. 231.
13. - A intervenção de inteligências ocultas nos fenômenos
espíritas não os torna mais milagrosos do que todos os outros fenômenos devidos
a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que povoam os espaços São uma
das forças da Natureza, força cuja ação é incessante sobre o mundo material,
tanto quanto sobre o mundo moral. Esclarecendo-nos acerca dessa força, o
Espiritismo faculta a elucidação de uma imensidade de coisas inexplicadas e
inexplicáveis por qualquer outro meio e que, por isso, passaram por prodígios
nos tempos idos. Do mesmo modo que o magnetismo, ele
revela uma lei, senão desconhecida, pelo menos mal compreendida; ou, melhor
dizendo, conheciam-se os efeitos, porque eles em todos os tempos se produziram,
porém não se conhecia a lei e foi o desconhecimento desta que gerou a
superstição. Conhecida essa lei, desaparece o maravilhoso e os fenômenos entram
na ordem das coisas naturais. Eis por que tanto operam um milagre os espíritas
quando fazem que uma mesa se mova sozinha, ou que os mortos escrevam, como um
milagre opera o médico, quando faz que um moribundo reviva, ou o físico, quando
faz que o raio caia. Aquele que pretendesse, com o auxílio desta ciência, fazer
milagres seria ou um ignorante do assunto, ou um enganador de tolos.
FAZ DEUS MILAGRES?
17. - Mas, a religião, dizem, se apoia em fatos que nem
explicados, nem explicáveis são. Inexplicados, talvez; inexplicáveis, é questão
muito outra. Que sabe o homem das descobertas e dos conhecimentos que o futuro
lhe reserva? Sem falar do milagre da criação, o maior de todos sem contestação
possível, já pertencente ao domínio da lei universal, não vemos reproduzirem-se
hoje, sob o império do magnetismo, do
sonambulismo, do Espiritismo, os êxtases, as visões, as aparições, as
percepções a distância, as curas instantâneas, as suspensões, as comunicações
orais e outras com os seres do mundo invisível, fenômenos esses conhecidos
desde tempos imemoráveis, tidos outrora por maravilhosos e que presentemente se
demonstra pertencerem à ordem das coisas naturais, de acordo com a lei
constitutiva dos seres? Os livros sagrados estão cheios de fatos desse gênero,
qualificados de sobrenaturais; como, porém, outros análogos e ainda mais
maravilhosos se encontram em todas as religiões pagãs da antiguidade, se a
veracidade de uma religião dependesse do numero e da natureza de tais fatos,
não se saberia dizer qual a que devesse prevalecer.
CURAS
32. - São extremamente variados os efeitos da ação fluídica
sobre os doentes, de acordo com as circunstâncias. Algumas vezes é lenta e
reclama tratamento prolongado, como no magnetismo ordinário;
doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de tal
poder, que operam curas instantâneas nalguns doentes, por meio apenas da
imposição das mãos, ou, até, exclusivamente por ato da vontade Entre os dois polos
extremos dessa faculdade, há infinitos matizes. Todas as curas desse gênero são
variedades do magnetismo e só diferem pela
intensidade e pela rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: o fluido, a
desempenhar o papel de agente terapêutico e cujo efeito se acha subordinado à
sua qualidade e a circunstâncias especiais.
33. - A ação magnética pode
produzir-se de muitas maneiras:
1º pelo próprio
fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou magnetismo humano,
cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do fluido;
2º pelo fluido dos
Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado,
seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono
sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência
física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está
na razão direta das qualidades do Espírito; (1)
3º pelos fluidos
que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo para esse
derramamento. É o magnetismo misto,
semiespiritual, ou, se o preferirem, humano-espiritual. Combinado com o fluido
humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece. Em tais
circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais
das vezes, provocado por um
apelo do magnetizador. 34. - É muito comum a faculdade
de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do exercício;
mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o
seu grau máximo se deve considerar excepcional. No entanto, em épocas diversas
e no seio de quase todos os povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau
eminente. Nestes últimos tempos, apareceram muitos exemplos notáveis, cuja
autenticidade não sofre contestação. Uma vez que as curas desse gênero assentam
num princípio natural e que o poder de operá-las não constitui privilégio, o
que se segue é que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas
na aparência. (2)
(1) Exemplos: Revue Spirite, fevereiro de 1863, pág.
64; - abril de 1865, pág. 113; - setembro de 1865, pág. 264.
(2) Casos de curas instantâneas relatados na Revue
Spirite: "O príncipe de Hohenlohe", dezembro de 1866, pág. 368;
"Jacob", outubro e novembro de 1866, págs. 312 e 345; outubro e novembro
de 1867, págs. 306 e 339; - "Simonet", agosto de 1867, página 232; -
"Caid Hassan", outubro de 1867, pág. 303; - "O cura
Gassner", novembro de 1867, pág. 331.
CAP XV
OS MILAGRES DO EVANGELHO
Superioridade da
natureza de Jesus
2. - Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo,
natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um
Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais
elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade
terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo
forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus
mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor
que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir
sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um
Messias divino.
Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém,
como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida
espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua
superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares
do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria
e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres (cap. XIV, nº
9). Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços
estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava
dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e superior de
muito à que de ordinário possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se,
nele, com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais
ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa forca magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem. Agiria como médium nas
curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um
intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência,
pois que era ele quem assistia os outros.
Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o
podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que
Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e
encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de
Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de
Deus.
Bodas de Caná
47. - Este milagre, referido unicamente no Evangelho de S.
João, é apresentado como o primeiro que Jesus operou e nessas condições, devera
ter sido um dos mais notados. Entretanto, bem fraca impressão parece haver
produzido, pois que nenhum outro evangelista dele trata. Fato não
extraordinário era para deixar espantados, no mais alto grau, os convivas e,
sobretudo, o dono da casa, os quais, todavia, parece que não o perceberam.
Considerado em si mesmo, pouca importância tem o fato, em
comparação com os que, verdadeiramente, atestam as qualidades espirituais de
Jesus. Admitido que as coisas hajam ocorrido, conforme foram narradas, e de
notar-se seja esse, de tal gênero, o único fenômeno que se tenha produzido.
Jesus era de natureza extremamente elevada, para se ater a efeitos puramente
materiais, próprios apenas a aguçar a curiosidade da multidão que, então, o teria
nivelado a um mágico. Ele sabia que as coisas úteis lhe conquistariam mais
simpatias e lhe granjeariam mais adeptos, do que as que facilmente passariam
por fruto de grande habilidade e destreza (nº 27).
Se bem que, a rigor, o fato se possa explicar, até certo
ponto, por uma ação fluídica que houvesse, como o magnetismo
oferece muitos exemplos, mudado as propriedades da água, dando-lhe o sabor do
vinho, pouco provável é se tenha verificado semelhante hipótese, dado que, em
tal caso, a água, tendo do vinho unicamente o sabor, houvera conservado a sua
coloração, o que não deixaria de ser notado. Mais racional é se reconheça aí uma
daquelas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus, como a do filho
pródigo, a do festim de bodas, do mau rico, da figueira que secou e tantas
outras que, todavia, se apresentam com caráter de fatos ocorridos.
Provavelmente, durante o repasto, terá ele aludido ao vinho e à água, tirando
de ambos um ensinamento. Justificam esta opinião as palavras que a respeito lhe
dirige o mordomo: «Toda gente serve em primeiro lugar o vinho bom e, depois que
todos o têm bebido muito, serve o menos fino; tu, porém, guardas até agora o
bom vinho.»
Entre duas hipóteses, deve-se preferir a mais racional e os
espíritas não são tão crédulos que por toda parte vejam manifestações, nem tão
absolutos em suas opiniões, que pretendam explicar tudo por meio dos fluidos.
Multiplicação dos pães
48. - A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais
têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos
incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o sentido alegórico,
para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto, a maioria das
pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária,
uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do
corpo.
Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples
figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem
que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande
preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem
esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de
ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e
também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele
exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade
material de comer.
Prevendo esse resultado, Jesus nenhuma dificuldade teve para
tranquilizar os discípulos, dizendo-lhes, na linguagem figurada que lhe era
habitual e admitido que realmente houvessem trazido alguns pães, que estes
bastariam para matar a fome à multidão. Simultaneamente, ministrava aos
referidos discípulos um ensinamento, com o lhes dizer: «Dai-lhes vós mesmos de
comer.» Ensinava-lhes assim que também eles podiam alimentar por meio da
palavra.
Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um
efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no
ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativar a atenção de uma
multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral
comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material
da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria.
Esta explicação, aliás, o próprio Jesus a confirmou nas duas
passagens seguintes.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
CAPÍTULO XIX
A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS
5. O poder da fé se
demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem
atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma
impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande
poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses
singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que
não passam de efeito de uma lei natural. Tal o motivo por que Jesus disse a
seus apóstolos: se não o curastes, foi porque não tínheis fé.
A fé humana e a divina
12. No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos
futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em
gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que
desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade.
Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado
religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa alavanca e porque o têm
considerado apenas como chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou
milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem,
quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa
vontade pode obter satisfação. Também os apóstolos não operaram milagres,
seguindo lhe o exemplo? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas
os homens de então desconheciam, mas que, hoje, em grande parte se explicam e
que pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo se
tornarão completamente compreensíveis. (Aqui
não é Kardec e sim o espírito se referindo ao Magnetismo e ele não exclui o
Magnetismo do Espiritismo e sim o complementa.)
A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas
faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações
celestiais e futuras. O homem de gênio, que se lança à realização de algum
grande empreendimento, triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de
chegar ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O homem de bem
que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua
existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força
necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de
abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendures que se não chegue a
vencer.
O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da
fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos
singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito: a fé é humana e divina. Se todos os
encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se
quisessem pôr a vontade
a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles
chamaram prodígios e que, no entanto, não
passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. Um Espírito
Protetor. (Paris, l863.)
CAPÍTULO XXVII
PEDI E OBTEREIS
14. Por exercer a prece uma como ação magnética,
poder-se-ia supor que o seu efeito depende da força fluídica. Assim,
entretanto, não é. Exercendo sobre os homens essa ação, os Espíritos, em sendo
preciso, suprem a insuficiência daquele que ora, ou agindo diretamente em
seu nome, ou dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, quando o
julgam digno dessa graça, ou que ela lhe pode ser proveitosa.
O homem que não se considere suficientemente bom para
exercer salutar influencia, não deve por isso abster-se de orar a bem de
outrem, com a idéia de que não é digno de ser escutado. A consciência da sua
inferioridade constitui uma prova de humildade, grata sempre a Deus, que leva
em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua confiança são um
primeiro passo para a sua conversão ao bem, conversão que os Espíritos bons se
sentem ditosos em incentivar. Repelida só o é a prece do orgulhoso que
deposita fé no seu poder e nos seus merecimentos e acredita ser-lhe possível
sobrepor-se à vontade do Eterno.
15. Está no pensamento o poder da prece, que por nada
depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita.
Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A
influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que
favoreçam o recolhimento. A prece
em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se
associam de coração a um mesmo
pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos
clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande o número de
pessoas reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria?!
Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por
uma mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força terá
a prece que lhe dirijam do que a das cem outras. (Cap. XXVIII, nº 4 e nº 5.)
CAPÍTULO XXVIII
V - PRECES PELOS
DOENTES E PELOS OBSIDIADOS
Pelos doentes - 77. PREFÁCIO.
As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida
terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade
do mundo que habitamos. As paixões e os excessos de toda ordem semeiam em nós
germens malsãos, às vezes hereditários. Nos mundos mais adiantados, física ou
moralmente, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está
sujeito às mesmas enfermidades e o corpo não é minado surdamente pelo corrosivo
das paixões. (Cap. III, n° 9.) Temos, assim, de nos resignar às consequências
do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a
outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando tal se dê,
façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se,
porém, mau grado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o Espiritismo nos
ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males.
Se Deus não houvesse querido que os sofrimentos corporais se
dissipassem ou abrandassem em certos casos, não houvera posto ao nosso alcance
meios de cura. A esse respeito, a sua solicitude, em conformidade com o
instinto de conservação, indica que é dever nosso procurar esses meios e
aplicá-los.
A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá
a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra
força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece. (Ver, no
Cap. XXVI, a notícia sobre a mediunidade curadora.)
CAPÍTULO XXVI
DAI GRATUITAMENTE
10. A mediunidade
é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero
de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a
mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muita vez, à
custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes
preço. O médium
curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que
pobres, nada cobravam pelas curas que operavam. Procure, pois, aquele que
carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe
consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa
dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao
passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam.